Para redescobrir memórias de Jóhann Jóhansson
Texto: NUNO GALOPIM
Se bem que hoje muitos o possam conhecer como autor de música orquestral com mais visível representação no cinema de Dennis Villeneuve (salvo o recente Blade Runner 2049), o islandês Jóhann Jóhansson tem na verdade um passado rico em outros acontecimentos que vale a pena descobrir. E entre a pop eletrónica dos Lhooq (dupla que lançou um único álbum em 1998), as experiências indie dos Apparat Organ Quartet (que a dada altura abandonou, mas que integrava nos tempos do belíssimo disco de estreia editado em 2002) e os primeiros discos editados a solo há vários motivos para algumas incursões na memória com episódios de boa (re)descoberta. Editado em 2006, representando então a sua estreia no catálogo da 4AD – que lhe deu por isso primeiros momentos de maior exposição global – o álbum IBM 1401- A user’s Manual regressa às listas de novas edições já que acaba de conhecer uma reedição em vinil.
O disco, que representou a sua quarta edição em nome própria (embora tendo sido o seu primeiro lançamento por uma editora internacional), partiu de memórias de um relacionamento familiar. O seu pai, um engenheiro informático, trabalhara na IBM e tinha em casa gravações do velho sistema de processamento de dados IBM 1401. Juntando a essas outras gravações, cruzando-as com elementos eletrónicos e uma partitura para orquestra criou então uma peça que, se por um lado fixa em música memórias de um tempo na história da informática, por outro deixou claras as qualidades cenográficas e narrativas de um compositor que, sem, surpresa, acabaria por encontrar depois no cinema um dos principais destinos das suas visões feitas com sons. O tom algo goreckiano de alguns segmentos da peça reflete expressões de uma identidade melancólica que ainda hoje caracteriza a assinatura musical do compositor islandês.
“IBMM 1041 – A User’s Manual”, de Jóhann Jóhansson, tem uma nova edição em suporte de vinil pela 4AD.
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