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A melhor versão de ‘Candide’ no início de um ano para celebrar Bernstein

Texto: NUNO GALOPIM

Um dos primeiros acontecimentos no ano que vai assinalar o centenário de Leonard Bernstein é a edição conjunta em CD e DVD da gravação ao vivo da versão definitiva de “Candide” que o próprio compositor dirigiu em 1989.

Leonard Bernstein (1918-1990) era já um maestro aclamado e um compositor reconhecido quando, em 1956, apresentou Candide, um novo “musical” em Nova Iorque baseado no texto homónimo de Voltaire… O teatro musical estava já longe de representar uma novidade na sua obra que, na altura, somava já os musicais On The Town (1944) e Wonderful Town (1953) e a ópera Trouble In Tahiti (1952). Candide, contudo, revelou-se, a principio, um caso um tanto complicado… Com libreto original de Lilian Hellman criticado como sendo demasiado sério perante não apenas o texto original de Voltaire mas também a música de Bernstein, Candide dividiu opiniões aquando da sua estreia na Broadway. Apesar do tom menos favorável de muitas críticas, a música de Candide revelou uma vez mais as capacidades de cruzamento de linguagens (e de comunicação) de Bernstein, tendo a Abertura sido tocada por mais de cem orquestras no ano seguinte…

Foram contudo precisos 33 anos e várias revisões (convocando muitas delas novas contribuições na reescrita do libreto), para que Bernstein encontrasse a desejada “versão definitiva” de Candide. O tom satírico do texto de Voltaire, inicialmente publicado em 1759 (e desde logo proibido em cidades como Paris ou Genebra e acrescentado ao índex do Vaticano), encontrou a adaptação mais fiel à sua identidade, ao mesmo tempo revelando o melhor de Bernstein como compositor atento às realidades sociais e políticas do seu tempo, não faltando citação subliminar aos “trabalhos” da comissão do senador McCarthy numa cena que tem a Lisboa pós-terramoto de 1755 por cenário.

A versão de 1989, que aceita adendas ao texto por figuras que vão de Stephen Sondheim e Dorothy Parker ao próprio Bernstein e à sua mulher Felícia, conheceu primeira gravação em Londres, em Dezembro de 1989, sob direcção do próprio Bernstein (com o mesmo elenco usado numa apresentação pública da qual nasceu a edição de um DVD). O carácter operático da revisão “definitiva” da obra levantou debate sobre como a definir, se opereta, se ópera, se ópera cómica… Na verdade é tudo isso, com tempero de sátira e melodrama, como sublinharia a crítica, claramente favorável, publicada em 1992 na revista Gramophone. Desde então houve já diversas grandes produções internacionais de Candide, uma delas assinalando em 2006, no Theatre do Chatelet em Paris, e depois no La Scala de Milão, os 50 anos da estreia da versão original na Broadway.

Este é um momento que sugere o tom informal com o qual Leonard Bernstein apresentou esta versão (gravada ao vivo). Aqui, antes de se escutar I Am Easily Assimilated o próprio compositor, que é o autor do libreto, interrompe o narrador para contar como surgiu a rima da letra com “Rovno Gubernya”, a meio de uma madrugada, por sugestão de Felícia, a sua mulher, que tinha ascendência chilena “e que por isso fala espanhol”, exlica… E assim surgiu o verso “Me muero, me sale una hernia”… Vale a pena ouvir o resto, claro.

A abrir o ano que celebra o centenário do nascimento de Leonard Bernstein (que se assinala a 25 de agosto) uma série de novos lançamentos entram em cena. E um dos primeiros, a chegar às lojas já a 19 de janeiro, é esta versão definitiva de Candide, numa edição que pela primeira vez junta numa mesma caixa o CD e o DVD desta interpretação dirigida pelo próprio compositor em 1989.

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