U2, Abba e outras oito canções para o dia de ano novo
Texto: NUNO GALOPIM
A cada novo dia 1 de janeiro que chega o concerto no Musikverein em Viena (Áustria), habitualmente dominado por composições da família Strauss, é coisa imbatível quando se pensa no cânone ocidental musical para o novo ano. Mas há também canções que se colam a esta data. E uma das mais vezes citada surgiu em disco em 1983, num single editado pelos U2 precisamente no dia 1 de janeiro desse ano.
New Year’s Day tem uma origem que representa a maior aproximação de toda a obra dos U2 ao movimento new romantic. Adam Clayton, o baixista, passara por Londres ainda em tempo de grande impacte das noites que tinham revolucionado a relação da música com a imagem entre finais dos setentas e inícios dos oitentas. E regressara a Dublin não apenas com um corte de cabelo novo (que refletia uma vontade em levar consigo parte dessa experiência de descoberta), mas também com a canção Fade to Grey dos Visage a ecoar na sua mente. E foi já na sala de ensaio, ao tentar encontrar a sequência de acordes e a linha de baixo da canção, que emergiram as primeiras ideias das quais acabaria por nascer esta canção dos U2. Dada toda esta pré-história não surpreende o facto de ser este um dos temas desta etapa da obra do grupo com mais elaborado e proeminente trabalho do baixo.
A letra refletia por um lado ecos do protagonismo que começava a ganhar internacionalmente a figura de Lech Walesa, que era então ainda apenas o líder do sindicato Solidariedade, num tempo em que a Polónia se encontrava sob lei marcial (que seria levantada no dia de ano novo). Ao mesmo tempo as palavras encontravam, na imagem de alguém sentado e abandonado sobre a neve, a força de querer recomeçar, da estaca zero.
Essas imagens de neve seriam fixadas pelo mítico teledisco que, sob sugestão do realizador Meiert Avis, rodaram no norte da Suécia, sob um frio de rachar. Não levavam roupa apropriada e, como contam em U2 by U2, “a boca de Bono quase congelou”. No dia seguinte, na hora de rodar a sequência a cavalo, coube a quatro mulheres suecas, vestidas com roupas semelhantes às dos elementos dos U2, o papel de serem figurantes em planos que conferiram ao teledisco o tom épico que fez história num tempo em que este foi dos primeiros vídeos promocionais da banda a conhecer rotação televisiva mais intensa.
Mas nem só desta memória histórica dos U2 vivem as canções que falam do ano novo. Vejamos um outro exemplo que, de resto, representa um dos episódios em que o mercado português inscreveu um momento de protagonismo na discografia dos Abba. Integrada no alinhamento do álbum Super Trouper, e trabalhada originalmente com o título Daddy Don’t Get Drunk on Christmas Day, a canção Happy New Year fez carreira como single sobretudo em edições que foram surgindo pelos mais diversos territórios depois de 1999, tendo atingido inclusivamente o número 4 nas tabelas de vendas na Suécia (em 2008), o número 5 na Noruega (em 2009) ou o número 11 na Holanda (em 2012). Houve, contudo, três territórios nos quais o tema Happy New Year teve logo direito a edição em single em 1980. E foram eles a Agrentina e Perú, aqui na forma de uma versão cantada em castelhano e apresentada com o título Felicidad. O terceiro país a lançar comercialmente esta canção como single em 1980 foi Portugal, num lançamento que incluía Andante Andante no lado B. Houve um teledisco desde logo criado para a canção mesmo sem que o single tenha sido escolhido pela esmagadora maioria dos territórios.
Além destas canções outras mais podem ajudar a construir uma playlist para o dia de ano novo. E por aí podem passar temas como New Years’ Resolution de Otis Redding e Carla Thomas, Our New Year de Tori Amos, New Year’s Day de Taylor Swift, New Year’s Prayer de Jeff Buckley, My Dear Acquaintance (A Happy New Year), de Regina Spektor, The New Year dos Death Cab For Cutie ou ou os mais clássicos Let’s Start the New Year Right de Bing Crosby ou Happy New Year de Judy Garland.
Para as quem quiser ouvir (e ver), aqui ficam elas:
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