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Dez canções de David Bowie para o cinema

Seleção e textos: NUNO GALOPIM

A assinalar passagem do segundo aniversário sobre a morte de David Bowie vamos lembrar dez canções suas que fizeram história no grande ecrã.

Dois depois de nos ter deixado, David Bowie continua bem presente no dia a dia da música que continuamos a ouvir. E para assinalar a passagem deste primeiro ano sobre a notícia da sua morte, propomos aqui uma lista de dez canções que Bowie compôs para o cinema ou que, através da sua presença nas bandas sonoras dos respetivos filmes, ganharam nova vida.

Data sobretudo da década de 80 a etapa de mais frequentes experiências de Bowie no cinema, tanto como músico como enquanto ator. É contudo das suas contribuições como músico para a sétima arte que se faz esta lista…

1982. “Cat People (Putting Out Fire)”
do filme Cat People, de Paul Schrader

Quando o realizador Paul Schrader convidou David Bowie para dar voz à canção-tema do filme Cat People, em cujo elenco figuravam nomes como os de Nastassja Kinski e Malcolm McDowell, já o compositor e produtor Giorgio Moroder tinha grande parte da banda sonora composta. Pelo que a contribuição de Bowie se fez apenas no plano da escrita da letra e da interpretação de canção à qual chamou Cat People (Putting Out Fire). O tema seria editado em single em 1982, com um instrumental de Moroder no lado B. Mas um ano depois, já com uma outra banda em estúdio e a produção de Nile Rodgers, uma outra versão surgiria no alinhamento do álbum Let’s Dance.

1985. “This is Not America” (com Pat Metheney)
do filme The Falcon and The Snowman

Corria o ano de 1984 quando David Bowie comentou um filme que estava então ainda longe de chegar às salas. Era assinado por John Schlessinger e dele Bowie dizia que era o melhor título do realizador que vira dos últimos anos… Falamos de Falcon and The Snowman. David Bowie acabaria a fazer a canção principal da respetiva banda sonora, e que nasceria de uma colaboração com o músico de jazz Pat Metheney, num registo smooth (algures entre a canção pop e atmosferas jazzy) algo invulgar na sua obra. Mesmo sem repetir o sucesso de outros singles de Bowie nos anos 80, a canção conheceu grande visibilidade e atingiu o número 14 no Reino Unido e número 32 nos EUA. Contudo, só depois do ano 2000 começou a surgir nos alinhamentos de concertos ao vivo. Por essa altura era já um clássico.

1986. “Absolute Beginers”
do filme Absolute Beginers, de Julien Temple

David Bowie foi convidado pelo realizador, Julien Temple, a compor e gravar o tema-título para um filme de ficção. Convocou então a Abbey Road uma série de músicos e, sob a batuta de Thomas Dolby, anunciou apenas que iam gravar com Mr X… A banda reunida, onde se incluía o guitarrista dos Prefab Sprout, o baixista dos Thompson Twins, o saxofonista dos Visage, o percussionista português Luís Jardim e o velho parceiro teclista Rick Wakeman, pegou no esboço da canção que Bowie levou a estúdio e, partindo das sugestões de um filme com acção projectada na Londres dos anos 50, nasceu um épico pop que se tornou numa das canções de referência da obra do músico nos anos 80. Sinfonista (Wakeman chamava-lhe “à la Rachmaninov”), o arranjo sublinhava uma eloquência digna de realeza pop que Bowie protagonizava. É um dos maiores clássicos de Bowie e uma das suas maiores performances comerciais depois de Let’s Dance.

1986. “Volare”
do filme “Absolute Beginers”, de Julien Temple

A presença de David Bowie em Absolute Beginers fez-se sentir tanto na música como no ecrã, sendo-lhe atribuído um papel no filme. Contudo, mais do que as imagens, foram as canções que venceram o tempo. E se o tema do genérico representou um dos maiores êxitos de Bowie, já uma outra pérola escondida na banda sonora merece ser recordada. Trata-se de uma versão de um clássico eurovisivo de 1958, originalmente interpretado por Domenico Modugno, e com o título original Nel Blu Dipinto di Blu.

1986. “Underground”
do filme “Labirinto”, de Jim Henson

Jim Henson, o criador dos Marretas, estava a desenvolver a ideia de um filme de fantasia com bonecos e no qual queria envolver a presença de um músico, tendo a produção considerado hipóteses como as de Sting, Michael Jackson ou David Bowie. Foi este último o seu escolhido e mostrou-se interessado. Aceitou criar canções (que ele mesmo interpretaria depois salvo uma, que ficaria por conta da bonecada) e exigiu apenas, perante uma das versões do argumento, que tivesse mais humor. E assim se fez… Este foi um dos dois singles extraídos da banda sonora. E acrescentou mais um episódio de êxito à discografia de Bowie nos oitentas.

1986. “When The Wind Blows”
do filme When The Wind Blows, de Jimmy Murakami

O medo de um eventual conflito nuclear pairou sobre muitos de nós na década de 80 e não faltaram filmes nem séries de televisão nem mesmo canções e telediscos a traduzir esse terror. O cinema de animação marcou presença neste conjunto de representações de uma ansiedade que então habitava o quotidiano em When The Wind Blows, filme de Jimmy Murakami que retratava as consequências de uma guerra nuclear no dia a dia de um casal já idoso em meio rural britânico. A música do filme contou com várias contribuições, entre as quais as de Paul Hardcastle ou Roger Waters, que assinou o score instrumental. A David Bowie coube cantar o tema-título, canção coescrita por si em parceria com Erdal Kızılçay, num tema de fulgor rock que contrastava com outras gravações suas dos oitentas e parecia antever caminhos que então teria pela frente…

1992. “Real Cool World”
do filme “Cool World”, de Ralph Bakshi

Após um período vivido a bordo dos Tin Machine, com os quais gravou dois álbuns de estúdio e um disco ao vivo, o regresso de David Bowie às edições em seu nome fez-se com esta canção criada para a banda sonora de um filme que juntava a animação à imagem real, com um elenco onde figuravam nomes como os de Kim Basinger e Brad Pitt. O tema assinalou também o seu reencontro com o produtor Nile Rodgers e, de certa forma, assinala uma primeira incursão por terrenos que ambos percorreriam, pouco depois, em Black Tie White Noise. O filme Cool World foi um tremendo flop. E o próprio single de Bowie está longe de ser um dos seus mais conhecidos.

1997. “I’m Derranged (edit)”
do filme “Estrada Perdida”, de David Lynch

David Bowie não era figura estranha a David Lynch. Não só em tempos interpretara (em teatro) a figura de John Merrick que Lynch recriou no filme O Homem Elefante como, em 1992, tivera um breve papel no filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Em 1997, para a sequência de abertura do filme Estrada Perdida, Lynch chamou I’m Derranged, uma canção que Bowie havia apresentado no álbum 1.Outside, de 1995, apresentando-a numa versão editada que, de certa maneira, dá o tom a todo o universo narrativo, temático e inclusivamente estético que se segue…

1997. “I Can’t Read”
do filme “The Ice Storm”, de Ang Lee

Para a banda sonora do filme The Ice Storm (que entre nós estreou como Tempestade de Inverno) o realizador Ang Lee chamou o compositor Mychael Danna. A música levada ao filme e editada depois em álbum contou com outras colaborações, entre as quais a de David Bowie. A sua presença na banda sonora do filme de Ang Lee fez-se com uma canção que tinha originalmente surgido no álbum de estreia dos Tin Machine, em 1989 e que, aqui se mostrava numa versão sob assinatura de Bowie, a solo. E teve então edição em single.

2001. “Nature Boy”
do filme “Moulin Rouge”, de Baz Luhrman

Assinada em 1947 por eden ahbez e originalmente gravada em 1948 por Nat King Cole, a canção Nature Boy conheceu inúmeras leituras, ao longo dos anos, por figuras como Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Peggy Lee, Miles Davis ou, mais recentemente, a dupla Tony Benett/Lady Gaga. Em 2001, ao preparar a banda sonora de Moulin Rouge, o realizador australiano Baz Luhrman pediu a David Bowie que gravasse uma versão desta canção, passando depois o tema aos Massive Attack, que o remisturaram.

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