Os dez melhores singles dos Air
Seleção e textos: NUNO GALOPIM
Dupla de Versalhes, Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel trabalham juntos desde 1995 e conheceram em 1998, ou seja, há 20 anos, com a edição de Moon Safari, o momento que lhes valeu exposição global e o consequente reconhecimento entre as figuras centrais do panorama pop da viragem do século.
Vinte anos depois de Moon Safari, álbum editado em janeiro de 2018, vamos aqui recordar os seus dez melhores singles. As escolhas são, como sempre, assinadas e pessoais. E vão surgir ao ritmo de uma por dia. Como sempre.
1. “Sexy Boy” (1998)
Não eram estreantes, mas na verdade até aí eram para muito boa gente uns ilustres desconhecidos. Mas depois de uma série de singles (que seriam pouco depois reunidos na antologia Premiers Symptomes), os Air tiveram em Moon Safari um álbum que não só reforçou o mapa francês da nova música eletrónica europeia (que emergira de forma pungente na segunda metade dos noventas) como deles fez uma referência cool do seu tempo. Sexy Boy foi, então, o seu (muito eficaz) cartão de visita.
2. “Playground Love” (1999)
A realizadora Sofia Coppola pediu aos Air a banda sonora para a sua primeira longa metragem: As Virgens Suicidas. O grupo respondeu com material original que foi então editado no formato de álbum, num corpo de composições que incluía Playground Love, uma canção que conheceu então edição como single e na qual participava, sob o pseudónimo Gordon Tracks, o francês Thomas Mars, vocalista dos Phoenix (que desde 2011 está casado com a realizadora).
3. “Kelly Watch The Stars” (1998)
Após o impacte global de Sexy Boy caberia ao single escolhido para ser o seu sucessor o papel de assegurar que não estaríamos perante um fenómeno “one hit wonder” e que havia, nos Air, uma proposta de carreira a seguir com atenção. Convenhamos que escolheram, do alinhamento de Moon Safari, a canção que mais bem poderia desde logo deixar bem vincada essa ideia. Acompanhada por um teledisco de Mike Mills, Kelly Watch The Stars deu aos Air um segundo episódio de respeito e visibilidade.
4. “Le Soleil et Près de Moi” (1997)
O terceiro episódio na discografia dos Air corresponde também ao último do trio de singles que representou o período de maturação das suas ideias antes da gravação do álbum com o qual se apresentaram em 1998. Editado em 1997, Le Soleil est Près de Moi é uma canção que já sugere claramente os caminhos pelos quais se desenharia poucp depois o universo de Moon Safari. Tal como os anteriores singles Modular Mix (1995) e Casanova 70 (1996) passou longe das maiores atenções até que, já sob o impacte de Moon Safari, a compilação Premiers Symptomes (que junta esses mesmos três singles) deu a conhecer esta canção a uma plateia mais vasta.
5. “Radio #1” (2001)
Apesar da aventura com o cinema de Sofia Coppola vivida com a criação da banda sonora do filme As Virgens Suicidas, foi com o álbum 10.000 Hz Legend que os Air apresentaram o sucessor de Moon Safari que, entretanto, se havia transformado numa referência de peso com dimensão global. Na hora de apresentar o novo disco escolheram como cartão de visita este Radio #1, canção composta pelos dois elementos do grupo e que contava, aos microfones, com as presenças de Roger Joseph Manning Jr., Justin Meldal-Johnsen, Ken Andrews e Jason Falkner.
6. “All I Need” (1998)
Natural de Tampa, na Florida, e de vida entretanto feira em Boston, a cantautora Beth Hirsh mudara-se para Paris para, em finais dos anos 90, trabalhar num primeiro disco (que ganharia forma no EP Miner’s Son). Num período em que reside em Monmartre há uma ocasião em que visita um produtor seu vizinho. Nicolas Godin, que estava em sua casa naquele momento, escuta as suas canções, do entusiasmo surgindo o convite para colaborar com os Air, acabando a co-assinar dois temas em Moon Safari: Make it Easy e este All I Need. Este último foi escolhido como terceiro single do álbum e surgiu então num teledisco de Mike Mills.
7. “Cherry Blossom Girl” (2004)
Três anos depois de 10.000 Hz Legend, o terceiro álbum de estúdio dos Air é um disco que surge no quadro de uma carreira já globalmente reconhecida e com estatuto establilizado. Os dois músicos franceses levam para as sessões de gravação de Talkie Walkie a presença do produtor Nigel Godrich que, por esses dias, além dos Radiohead, trabalhava também com nomes como os de Beck ou Divine Comedy, e que com eles havia colaborado já numa experiência com o escritor italiano Alessandro Baricco. Disco mais implosivo e focado no detalhe, Talkie Talwie teve este Cherry Blossom Girl como cartão de visita no formato de single.
8. “Don’t Be Light” (2002)
Depois do impacte de Moon Safari, da edição de uma compilação com os singles anteriores a 1998 e uma primeira experiência no cinema, os Air encararam com ousadia e sentido de desafio a criação do seu primeiro álbum de estúdio no século XXI. E definiram 10.000 Hz Legend como um patamar de evolução das ideias antes lançadas, sugerindo o alinhamento um sentido de coesão do todo, secundarizando a criação de peças que pudessem dele ser destacadas (ou seja, os singles). Não que não sejam interessantes (porque o são). Mas porque, ao invés dos três extraídos de Moon Safari, os que daqui retiraram não eram peças com o mesmo potencial de sedução para um público maior. Este foi o segundo single extraído do álbum. E não é de todo uma piscadela de olho aos tops…
9. “Modular Mix” (1995)
O princípio era assim… Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel eram estudantes, o primeiro de arquitetura na École Nationale Supérieure d’Architecture de Versailles, o segundo de matemática. Ao resolverem criar uma banda avançaram, logo nesse primeiro ano, para a construção de um cartão de visita na forma de um single. E apresentaram em Modular Mix uma peça instrumental ambiental, com alma de coisa lounge, gourmet, e vontade em sugerir ecos discretos de um tom jazzy… Estavam em sintonia com um clima que emergia por aqueles dias em França… Mas na verdade estavam já a lançar sobretudo as bases da sua identidade. E convenhamos que em Modular 70 podemos escutar já muito do que seria o futuro Moon Safari.
10. “Alpha Beta Gaga” (2004)
Foi o segundo single extraído do álbum Talkie Walkie e chegou num momento em que o entusiasmo generalizado em redor da banda arrefecera, mantendo-se atentos, claro está, os mais interessados na música do que no fenómeno. Conta-se que esta possa ter sido uma das canções mostradas pela dupla a Madonna por alturas de American Life, facto que a forma quase instrumental não parece corroborar… Mas é um mito urbano sobre uma canção que na verdade traduz ecos curiosos da memória do oeste americano, mas com um piscar de olho ao western spaghetti. O teledisco, de Mathieu Tonetti, não deixou escapar esse corpo de sugestões…
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