“Like a Virgin”: ou como os ecos de Bowie levaram Madonna a outro patamar
Texto: NUNO GALOPIM
Apesar de talhado numa linha de continuidade o segundo álbum de Madonna assinala um salto tremendo face ao que fora a promissora estreia em 1983. Um salto que se revela no corpo de canções de um alinhamento mais vitaminado em potenciais êxitos pop (que o acabariam de facto por ser), na força de uma comunicação mais focada e num mais afinado rumo conjunto da produção, desta vez concentrada, além da própria Madonna, num outro pulso só: o de Nile Rodgers.
É aí mesmo que o álbum começa a ganhar forma: na escolha do parceiro certo no momento certo. Satisfeita com o que escutara em Let’s Dance, de David Bowie, Madonna chamou Nile Rodgers que, com ele, trouxe os também ex-Chic Bernard Edwards e Tony Thompson, convocando ainda o engenheiro de som Jason Corsaro, equipa que nesse mesmo ano estaria associada a projetos dos Duran Duran. O ponto de partida para a identidade sonora do disco assentou na mesma relação de diálogos entre a pop e a música de dança que então povoava as noites mais in de Nova Iorque, com evidentes ecos do hi-nrg e, sobretudo, o electro. A composição das canções e as opções da produção vincariam, contudo, uma faceta pop mais evidente, deixando para as versões “máxi” o papel de assegurar a continuação de uma relação com as pistas de dança.
O alinhamento guarda em si episódios que definem o processo evolutivo entre os dois discos. E se a Pretender cabe uma expressão de maior proximidade com o que se escutara em Madonna, já em canções como Like A Virgin, Over and Over ou Material Girl cabe a evidência da conquista de um novo patamar, servindo Love Don’t Live Here Anymore como janela de possibilidades para eventualmente explorar adiante.
Mas se na escrita há um requintar de ideias e na produção um aprumar das ideias, a um terceiro rumo de acontecimentos podemos apontar possíveis justificações para o incremento de popularidade: a imagem. E o modo como a identidade visual acrescenta uma nova e mais sólida dimensão à obra de Madonna por estes dias tanto passa pela sessão fotográfica com Steven Meisel que gera a capa, como o trabalho de conceção dos telediscos que atinge também aqui uma outra dimensão. E se a popularidade do tema-título fez das imagens captadas em Veneza um quadro iconográfico marcante, já a citação de memórias de Marilyn Monroe em Material Girl abre um outro capítulo na história da multiplicação dos rostos de Madonna. Afinal mais uma herança de Bowie (o primeiro artista que uma jovem Madonna em tempos vira ao vivo) a passar por este disco.
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