Gatos e mais gatos
Texto: NUNO CARVALHO
Este documentário da realizadora de origem turca Ceyda Torun, que corresponde à sua primeira longa-metragem, tem como protagonistas uma série de gatos que vivem nas ruas de Istambul e que não pertencem a ninguém, mas que estabelecem pontes de afetos com quem passa e especialmente com quem escolhem como seus cuidadores eventuais. Vivendo “entre dois mundos, nem selvagens nem domesticados”, são também, para além de fontes inspiradoras de ternura, metáforas peludas e ágeis da ideia de liberdade, habitando um limbo em que, por um lado, não perdem os seus instintos mais vivos no redil castrador da domesticidade nem, por outro, arriscam a sobrevivência num abandono desamparado.
Gatos é uma delícia visual e afetiva, sobretudo para quem gosta destes felinos adoráveis. O filme foca-se essencialmente em sete gatos com sete vidas (e personalidades) diferentes, filmados com uma apurada técnica que os acompanha ao nível do chão e nos dá também o seu ponto de vista. A ideia do POV felino é muito bem executada, com a câmara a seguir os protagonistas desta história de amor entre os animais e os humanos como se de um gato se tratasse também. E a afeição aos felinos é tanta que, a certa altura, uma das intervenientes no filme chega mesmo a dizer, sobre um gato de que cuidou, que, se houver outra vida, não é a sua avó que quer reencontrar, mas sim o gato que amou.
“Gatos”, de Ceyda Torun, está em exibição numa distribuição da Cinema Bold
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