Marianne Faithfull… À falta de melhor…
Texto: NUNO GALOPIM
Não basta ter uma figura pela frente e a sua história para que se justifique um filme. Há alguns anos, numa das ocasiões em que falei com Marianne Faithfull, senti como o recordar das memórias estafadas dos anos 60, a vida com Mick Jagger, a etapa junkie nos setentas e outras mais vivências menos luminosas se tinham tornado para si um fardo não minimal, mas repetitivo, em entrevistas e mais entrevistas. E por isso, explicou-me, escreveu uma autobiografia onde conta tudo. E bem. E tal como no livro também em frente à câmara de Sandrine Bonnaire tentou uma vez mais ser honesta, como ali confessa… Porém, salvo o instante dessas confissões e os momentos nos quais sentimos que a presença da câmara se torna incómoda para a cantora, pedindo esta, por tudo, que a realizadora a desligue, gerando um momento incómodo, quase perturbante, tudo o resto que vemos neste documentário é um mais-do-mesmo que nada acrescenta às biografias tantas vezes já contadas de Marianne Faithfull publicadas entre livros e revistas ao longo de uma vida que soma já mais de meio século de carreira.
O filme é essencialmente um era-uma-vez cronologicamente arrumado, que gasta mais de metade do seu tempo entre os idos da swinging London. Tem o mérito de juntar muito bom arquivo (sem contudo muitas vezes nos dizer do que se trata) e de estabelecer contrastes com o presente. Mas que fora disso nada mais parece ter para nos contar. Carece de um rumo, de uma ideia condutora… Um ponto de vista. Afinal o que se conta? A biografia de fio a pavio? Se assim é, então é pela rama que a coisa fica, deixando inúmeros episódios e acontecimentos por tratar condignamente… Faltava ainda um grande documentário sobre Marianne Faithfull, é verdade. Mas claramente não este filme que vai ocupar esse lugar… Porém, à falta de melhor…
“Faithful”, de Sandrine Bonnaire, está em exibição no Cinema Ideal juntamente com a curta de 26 minutos “Why Is Difficult to Make Films in Kurdistan”, de Ebrû Avci.
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