O quarto álbum de estúdio dos Tune-Yards junta uma voz política a um festim de acontecimentos sugerindo uma expressão atual da canção pop como espaço aberto às ideias, a referências que podem chegar de outras geografias e ao gosto de dançar.

Pode a música ser, ao mesmo tempo, motivo para a dança, o movimento, e não deixar de traduzir um momento em que há grandes questões (e preocupações) em jogo? Uma possível resposta pode encontrar-se entre o alinhamento do quarto álbum de estúdio dos Tune-Yards (há quem goste mais de usar a versão com “estilo” tUnE-yArDs), banda que continua interessada em cruzar linguagens e referências, porém agora, mais ainda com as eletrónicas a marcar presença em jogo.

Quatro anos depois de Nikki Nack, o novo I Can Feel You Creep Into My Private Life revela um centrar da voz política de Merrill Garbus em questões identitárias (do género à cor da pele) e num debate urgente, atual e sem fronteiras sobre outras questões do nosso tempo. E projeta depois palavras que ressoam e se fazem ouvir com uma música que sugere um festim de acontecimentos, acolhendo referências que tanto podem passar pelo Quénia como pelo Haiti, que traduzem o pragmatismo de uma compositora que também é DJ e buscam pistas para lá das fronteiras habituais formas da canção.

Já lhe chamaram alt-pop… É apenas uma designação, de facto. O certo é que Merrill Garbus parece ter encontrado em I Can Feel You Creep Into My Private Life a expressão mais aprumada de uma busca que encetou há já doze anos. Podemos chamar-lhe apenas pop… A boa, e do final da segunda década do século XXI, soa assim.

“I Can Feel You Creep Into My Private Life” dos Tune-Yards, está disponível em LP e CD e também nas plataformas digitais numa edição da 4AD. ★★★★