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“True Blue”: a consagração de um ícone pop

Texto: NUNO GALOPIM

Uma nova abordagem na composição, novas opções instrumentais nos arranjos, um tom mais grave na voz e um quadro temático que começou a refletir uma visão crítica mais interventiva fizeram do álbum de 1986 de Madonna uma peça de referência na história da música pop.

Se em 1983 o álbum de estreia (e os singles dele extraídos) tinham revelado Madonna ao mundo como uma voz que expressava ecos da cultura de dança nova-iorquina pós-disco na alvorada dos anos 80 e se Like A Virgin (1984) encetara um acerto de rota rumo a outros destinos mais pop, foi com True Blue, editado em 1986, que Madonna firmou definitivamente o seu espaço na linha da frente do panorama da música popular, conquistando um estatuto que ainda hoje mantém.

Stephen Bray, que colaborara em Into The Groove, manteve-se na equipa de produção à qual chegou Patrick Leonard, cuja visão ajudou a moldar uma imagem pop mais eclética e firme para as canções de Madonna na segunda metade dos anos 80. Madonna, que também é creditada como uma das produtoras do disco, tem um papel igualmente mais firme na escrita das canções, não havendo nenhuma na qual não tenha havido uma intervenção sua nem que, como sucedeu em La Isla Bonita (originalmente oferecida ao álbum Bad de Michael Jacskon, mas rejeitada), contasse com letra por si reescrita.

True Blue nasceu num período de casamento com Sean Penn, a quem o disco foi dedicado. As canções refletem sobre várias temáticas, revelando primeiros sinais de uma consciência social que ganharia espaço regular nos discos, atuações e entrevistas de Madonna. Um dos exemplos mais claros surge em Papa Don’t Preach que fala sobre a gavidez em adolescentes. O levar de temas deste fulgor a um álbum (e inclusivamente fazendo da respetiva canção um single) não apagou a faceta mais festiva de Madonna, que está aqui bem presente em canções como Where’s The Party ou White Heat, que esteticamente representam os momentos de maior proximidade para com os ecos dos universos da cultura de dança visitados nos álbuns de 1983 e 1984.

Além do afinar da sonoridade na produção a própria opção tomada pelos arranjos das canções revela sinais de mudança no curso da música de Madonna. A presença de outro tipo de instrumentos, nomeadamente a presença de uma orquestra em Papa Don’t Preach ou a dimensão mais dramática de Live To Tell (primeiro single, correspondendo a uma canção cedida à banda sonora de Fire With Fire, de Duncan Gibbins), juntamente com o tom mais grave com que Madonna aborda o canto definem em True Blue um importante momento de viragem que o impacte de singles mais luminosos como True Blue, Open Your Heart e La Isla Bonita ajudaram a reforçar. Vale a pena assinalar ainda um flirt com a cultura latina que não se esgota em La Isla Bonita, manifestando-se ainda em Love Makes The World Go Round, que encerra o alinhamento.

Tal como sucedera em Like a Virgin a capa do álbum resultou de uma sessão com um fotógrafo de referência. Coube desta vez a Herb Ritts a criação de imagens que se tornariam numa das expressões mais marcantes de toda a iconografia de Madonna.

Habitado por cinco singles de impacte global, True Blue superou os feitos dos dois primeiros álbuns de Madonna e alcançou vendas milionárias, somando hoje mais de 25 milhões de discos.

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