Para sentir o pulso de Steve Reich, aos 81 anos
Texto: NUNO GALOPIM
Foi em 1985, com o lançamento de Desert Music, que Steve Reich encontrou porto seguro no catálogo da Nonesuch. Depois de experiências iniciais em pequenas independentes e de breves passagens pela Deutsche Grammophon e pela ECM, Reich encontrou na Noneusch a “casa” que se tornou a residência de estreia oficial das obras que, desde então, foi fixando em disco. Contudo, nos últimos anos, e tal como tem acontecido com obras de Philip Glass (outro dos quatro nomes de referência do minimalismo norte-americano, os outros sendo La Monte Young e Terry Riley), têm começado a surgir inúmeras abordagens de outros intérpretes a muitas das suas obras, tendo assim a discografia do compositor começado a conhecer frequentes adições para lá do catálogo pelo qual vão surgindo as novidades. E, de facto, depois de Radio Rewrite (2016), disco no qual eram reunidas reflexões de Reich sobre duas canções dos Radiohead, surgiram no mercado dez discos com novas gravações de obras do compositor, juntando nomes como o Quarteto Signal ou o ensemble de percussões da London Symphony Orchestra, dando novas vidas a peças como Sextet, Clapping Music ou Music For 18 Musicians, tendo até surgido, através da Sony Classical, e para assinalar o 80º aniversário de Steve Reich, um álbum duplo com uma série de novos registos de obras que cruzam várias etapas da sua carreira, sob a batuta de Kristjan Järvi. Apesar desta profusão de edições, é novamente pela Nonesuch que a novidade chega a disco, desta vez num álbum que junta duas das mais recentes obras de Reich e que, em pouco mais de 30 minutos de música, estabelece curiosas pontes entre o tutano da sua identidade e o desejo em expressar tanto ecos de referências de outrora como marcas de espaços que herdaram ensinamentos colhidos na sua música.
Vamos por partes…
Pulse, de 2015, é uma peça orquestral para quatro violinos, duas violas, duas flautas, dois clarinetes, piano e baixo elétrico e surge aqui numa interpretação pelo International Contemporary Ensemble. Trata-se de uma nova abordagem a um modo de entender as mecânicas da repetição à la Reich, usando todavia como material musical uma sucessão de quadros de grande placidez que parecem traduzir ecos de outras épocas da grande música orquestral americana. Há aqui um sentido de lirismo que se molda a uma ideia que, apesar de sugerir ocasionais momentos climáticos, nos devolve sistematicamente a um patamar inicial, como quem caminha, sem fugir, de um circuito labiríntico, embora sedutor.
Quartet, aqui em interpretação pelo Colin Currie Group, é substancialmente diferente. Mais intensa, mais ritmada, é uma peça em três partes para dois pianos e dois vibrafones, relacionando-se, pela forma e qualidades tímbricas, com algumas memórias da música de Reich de há mais de 30 anos. O booklet, contudo, sugere (e com razão) há aqui também afinidades para com os caminhos que têm tomado algumas abordagens à música de Steve Reich feitas por DJ e músicos de novas gerações, apontando, com graça, que desta vez é o próprio compositor quem faz de disc jockey de si mesmo.
“Pulse/Quartet”, de Steve Reich, está disponível em CD e nas plataformas digitais em edição pela Nonesuch. Uma edição em vinil está prevista para 30 de março.
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