Música com espaço (e não só)
Texto: NUNO GALOPIM
A diluição das fronteiras entre géneros musicais pode ter dado que falar há algum tempo. Mas agora é facto consumado, habitual, acentuado mais do que nunca pelo poder da comunicação global e o modo como os gostos e demandas de quem faz música, assim como de quem a escuta, se constrói à mercê da curiosidade e das descobertas que vão surgindo pela frente. Alemão, natural de Hamburgo mas residente em Berlim (a capital europeia das novas visões feitas com eletrónicas), Nils Frahm tem desenhado uma obra que vive precisamente dessa vontade em explorar estímulos e visões. Tem nas eletrónicas a sua ferramenta de trabalho mais frequente. Mas há na sua música uma presença e assimilação de formas (e de instrumentos) que mais frequentemente escutamos nos terrenos da música contemporânea ou no jazz.
Filho de um fotógrafo que colaborou na criação de várias capas de álbuns da ECM Records, Nils Frahm começou por lançar discos nos quais ao piano era dada a voz protagonista. Agora, mais de dez anos depois, All Melody surge como a mais recente expressão da visão ampla e sólida de uma personalidade que se situa na linha da frente da criação da música eletrónica, que integrou na sua identidade as marcas das vivências pelas quais passou e que descobriu, através do trabalho para o cinema, qualidades ambientais que a sua música hoje tão bem define.Não se trata, porém, de uma música essencialmente cenográfica, de papel de parede. De resto, logo o título sugere que há aqui melodias. E, com elas, narrativas (mesmo que abstratas). Narrativas que a própria presença de teclados de outros tempos ajudam a moldar… E, assim, aqui temos o primeiro grande disco de música eletrónica de 2018.
“All Melody”, de Nils Frahm, está disponível em LP e CD, assim como nas plataformas digitais, numa edição da Erased Tapes. ★★★★
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