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Para escutar memórias do cinema

Texto: NUNO GALOPIM

A Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, dirigida por Franck Strobel, tem vindo a levar a disco memórias da relação da música com o cinema e acaba de lançar uma gravação da partitura original da banda sonora que Sergei Prokofiev criou para “Ivan, o Terrível”, de Sergei Eisenstein.

O universo da edição de música para cinema vive sobretudo do fluxo da novidade (da qual a esmagadora maioria das propostas não justifica vida discográfica). Mas há momentos em que os mapas de novas edições abrem portas a ecos de outros tempos para dar nova vida a episódios que venceram o espaço ao qual foram originalmente destinados na sala escura e conquistaram um lugar na história da música. E nestas primeiras semanas de 2018 houve já alguns exemplos de boa atenção em disco para com este espaço de memórias. Um exemplo é a recente edição da música original que Gottfried Huppertz compôs em 1927 para Metropolis, de Fritz Lang, que agora conhece vida num CD duplo da Pan Classics, numa interpretação da Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, dirigida por Franck Strobel. A mesma orquestra e maestro acabam de apresentar um reencontro em disco com as partituras originais que Prokofiev entregou a Sergei Eisenstein quando se reencontraram para trabalhar em Ivan, o Terrível.

O sucesso do trabalho conjunto entre o Eisenstein e o compositor em Alexandre Nevsky levou-os a arregaçar novamente as mangas perante um novo projecto histórico: um tríptico épico sobre a vida de Ivan IV (com o cognome O Terrível), o príncipe de Moscovo que se tornou no primeiro czar de todas as Rússias. Estávamos em 1941 e o apelo patriota que o filme sugeria, expressando a grandiosidade de uma cultura então sob a ameaça de guerra pelos alemães, e o retrato de um autocrata cuja visão justificara os meios empregues, agradou a Estaline. Rodado durante a guerra, Ivan, o Terrível (Parte 1) teve estreia em 1945 e chegou a vencer um prémio oficial. Já a segunda parte do filme, onde se questionava a visão e o uso do poder pelo czar, acabou na gaveta, proibido, e só estreado na recta final dos anos 50, já depois das mortes de Eisenstein, Prokofiev e Estaline. A terceira parte, inicialmente projectada, nunca chegou sequer a ser rodada.

Tal como em Alexandre Nevsky, a música de Prokofiev desempenhou um papel fundamental no filme. Porém, ao contrário do que sucedera com esse outro filme, Prokofiev não adaptou a música que compusera para Ivan, o Terrível, para uma versão de concerto. Esse trabalho coube, já nos anos 60, a Abram Stassevich, que na verdade havia dirigido a orquestra na gravação da banda sonora. Esta versão de concerto foi surgindo em disco, sendo hoje mais frequente encontrá-la do que a partitura original. Situação que esta nova edição permite equilibrar.

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