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Nos 200 anos de Frankenstein

Texto: NUNO GALOPIM

Publicado em 1818, “Frankenstein”, de Mary Shelley, é um marco na história da ficção científica. 200 anos depois podemos refletir sobre o livro e também as descendências que gerou.

Publicado em 1818, Frankenstein, de Mary Shelley (1797-1851), é frequentemente apontado como sendo o primeiro momento na história da ficção científica. É claro que a posição não é unânime. Há quem aceite propostas anteriores, havendo inclusivamente quem aponte, O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz, de Johannes Valentinus Andreae, de 1616, como sendo o episódio inicial desta história. Assim como há quem prefira olhar os romances “científicos” que H.G. Wells publicou entre finais do século XIX e a alvorada do século XX (o que inclui títulos como O Homem Invisível ou A Guerra dos Mundos) como o momento que mais se ajusta à eclosão da ficção científica como género literário. Há, na verdade, exemplos da literatura fantástica que recuam ainda mais atrás no tempo. Mas o Frankenstein de Mary Shelley junta às marcas de identidade do seu tempo, ecos de uma pesquisa “científica” que a escritora lançou sobre as temáticas que chamou à narrativa, procurando projetar na sua história um sentido de verosimilhança que não era necessariamente realista mas que tentava ao menos sustentar, com o conhecimento da época, as possibilidades sobre as quais estava a lançar a sua ideia de ficção.

O livro usa um dispositivo narrativo que nos lança numa história descoberta através de cartas e, depois, o relato nascido de um estranho encontro. E é aí que se conta a história do jovem cientista que constrói um ser com base em partes de outros corpos, explorando depois a trama mais as consequências da “criação” do que propriamente a “construção” de um ser vivo a partir de matéria morta.

O livro, originalmente apresentado como assinado por um autor anónimo, acabou por se transformar num dos mais influentes do seu tempo, gerando descendências em diversas frentes, algumas das mais célebres tendo surgido no cinema.

É por isso que, no momento em que se assinalam os 200 anos sobre a edição de Frankenstein, surgem novos lançamentos que tanto exploram as questões que a escrita em si levanta como refletem todo o legado de heranças que foi gerando ao longo dos tempos.


“Frankenstein”, de James Whale (1931)

“The Bride of Frankenstein”, James Whale (1935)

Um dos mais ativos polos na celebração dos 200 anos de Frankenstein é a Arizona State University (nos EUA) que, através do Frankenstein Bicentennial Project, tem sido o epicentro de uma série de estudos em torno do livro de Mary Shelley e das ressonâncias que gerou nestes dois séculos.

Foi precisamente com base nos trabalhos ali lançados que surgiu, recentemente, Frankenstein: Annotated For Scientists, Engineers and Creators Of All Kinds, livro com edição física pela MIT Press (mas com download gratuito oferecido aqui). Este volume inclui uma versão que parte do manuscrito do texto original, fruto de um trabalho de edição feito por Charles E. Robinson, que é uma das maiores autoridades neste terreno. Ao texto, anotado, o livro acrescenta depois uma série de ensaios através dos quais se debatem questões do foro da ética e da ciência.

Se este projeto condensa muito do que atualmente se investiga em torno deste clássico da literatura inglesa do século XIX, outros títulos novos podem acrescentar dados interessantes a este mesmo universo. Com data de lançamento a 8 de fevereiro Making The Monster: The Science Behind Mary Shelley’s Frankenstein, de Kathryn Harkup (Bloomsbury Sigma) explora as relações da ficção criada há 200 anos com as questões científicas que levanta.

Já uma abordagem às diversas leituras e heranças do livro de Mary Shelley pode encontrar-se em Frankenstein: The First Two Hundred Years, livro ilustrado (lançado pela Reel Art Press) que documenta, com muitas imagens, as muitas expressões que a figura da “criatura” imaginada há 200 anos foi tomando na literatura, na banda desenhada, no cinema… Além de reedições do texto de 1818 (algumas delas ilustradas), o calendário livreiro de 2018 inclui ainda vários novos exemplos de como o livro de Mary Shelley é ainda hoje uma fonte de inspiração.

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