O cinema de Scorsese, Gopdard ou Wim Wenders é o ponto de partida para uma desafiante incursão pela memória das imagens que se faz apenas pelo som. Este é o novo disco da cantora de jazz veterana Norma Winstone.

O cinema é aqui o ponto de partida. As imagens e a sua relação com os sons são, contudo, uma memória a reter de experiências na sala escura, desafiando-nos este novo álbum da cantora britânica Norma Winstone a um conjunto de reencontros que têm em comum uma mesma figura protagonista (a sua voz) e um cenário desenhado com a colaboração de quatro músicos que assim encontram um caminho comum para recordações dispersas que, agora partilhadas, definem um corpo comum.

Acompanhada por Klaus Gesing (clarinete e saxofone), Glauco Venier (piano), Helge Andreas Norbakken (percussão) e Mario Brunello (violoncelo), e com arranjos dos dois primeiros, Norma Winstone passa em Descansado – Songs for Film, pelo cinema de nomes como os de Marton Scorsese, Jean-Luc Godard ou Norman Jewinson, celebrando em primeiro lugar o trabalho de compositores como Bernard Hermann, Michel Legrand ou Nino Rota, entre alguns mais. E entre eles surgem também os Madredeus, numa abordagem a Lisbon Story, que nos lembra o filme com música (e presença) do grupo português que o alemão Wim Wenders rodou em Lisboa no início dos anos 90.

As qualidades interpretativas de uma voz vivida no jazz, os arranjos (com noção de espaço) de Gesing e Venier e os jogos de contrastes que nascem entre a presença de um percussionista ligado à improvisação e um violoncelista com formação clássica dão a estes olhares sobre o cinema um travo delicado, quase frágil, e absolutamente cativante.

“Descansado”, de Norma Winstone, está disponível em CD numa edição da ECM Records