Música pop para gente educada
Texto: NUNO GALOPIM
Podia ser uma daquelas frases perfeitas para escrever mais um episódio da mitologia pop, mas assim aconteceu: a vontade de chamar Please ao álbum de estreia dos Pet Shop Boys nasceu da ideia de imaginar que, chegados ao balcão da loja de discos, os compradores tivessem de dizer algo como “can I have the Pet Shop Boys album, Please”? Coisa para pessoas educadas, pois está claro.
O disco (tal como aconteceria com o segundo álbum) assenta em grande parte sobre um alinhamento que corresponde a composições que a dupla foi criando antes mesmo de editar sequer o seu primeiro single, em 1984. Sob a companhia em estúdio de Stephen Hague, as sessões assinalaram uma busca de ideias para lá dos espaços experimentados nas sessões que antes tinham registado com Bobby O, havendo contudo instantes (como por exemplo se nota em Opportunities) em que essas ligações primordiais se mantiveram mais evidentes.
Please é um álbum relativamente simples, mas definidor já de uma identidade que ainda hoje caracteriza a demanda de um grupo que gosta de partir da contemporaneidade pop e da sua relação com a música de dança, para pensar então a canção de uma forma que assim estabelece pontes entre um certo classicismo e modernidade. O disco assenta sobre eletrónicas e um evidente interesse pelas dinâmicas rítmicas atentas à dança, mas exibe já sinais claros de uma capacidade maior na escrita, que se revela sobretudo em canções como West End Girls (aqui retomada na versão regravada com Hague em 1985) ou Suburbia, canção que nasceu quase no final das sessões e que aqui é incluída numa primeira versão pouco diferente do que mostrava a maquete, meses depois uma nova mistura definindo uma visão mais “definitiva” que lhes valeria um dos seus primeiros grandes clássicos.
Please foi editado em março de 1986, poucas semanas depois de Love Comes Quickly ter reafirmado o potencial que West End Girls colocara em cena sob impacte global. O alinhamento confirmava que estava aqui um primeiro passo para um percurso de grande fôlego, deixando logo bem claro que o êxito mundial que o single West End Girls havia alcançado em 1985 não faria deles one hit wonders. Pelo contrário, uma carreira despontava ali mesmo (e em boa hora optaram por deixar para mais adiante canções como It’s a Sin, Rent, What Have I Done to Deserve This ou Jealousy, que entretanto estavam já criadas).
A capa refltete uma proposta gráfica algo ousada e claramente pouco habitual, propondo, sob um fundo branco, uma imagem invulgarmente pequena dos músicos. Um trabalho naturalmente pensado para a idade do vinil (tanto que perde força na redução de tamanho para o formato de CD).
Esta reedição retoma a ideia de juntar ao disco original um segundo CD com lados B dos singles e remisturas editadas em máxis da época. Entre os temas estão aqui peças como In the Night (nascida depois de Neil Tennant ter lido um livro sobre a ocupação de Paris pelos nazis e de ali ter descoberto o movimento de contracultura dos zazous), Jack the Lad (que tem a música de Satie na sua genética) ou Panninaro, a primeira das duas experiências vocais de Chris Lowe na discografia dos Pet Shop Boys.
O booklet, com imagens da época, um texto de contextualização e entrevistas que contam todo o alinhamento faixa a faixa é outro dos extras gourmet desta série de reedições.
“Please + Further Listening 1984-1986”, dos Pet Shop Boys, está disponível em 2CD e nas plataformas digitais numa edição da Parlophone/Warner. A edição em vinil inclui apenas o álbum original, embora com o som remasterizado.
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