Sonhos pop
Texto: NUNO GALOPIM
A mudança, tantas vezes, faz bem… Que o diga Saul Ademczewski que, depois de afastado dos Fat White Family num quadro dramático (envolvendo questões de dependência), acabou por se juntar a Ben Romans-Hopcraft (Childhood) para, a dois, criar um dos mais deliciosos discos de canções pop para gosto gourmet que surgiram nos últimos tempo. Sim, pop, feita de encontros entre ecos do easy listening dos cinquentas, a luminosidade de uns Beach Boys (de meados e finais dos sessentas), os teclados e as memórias indie dos oitentas (as mais valorizadas até aqui nos singles já extraídos do disco) e, com algum peso na equação, uma certa vontade em piscar o olho ao sentido melodista do grande Syd Barrett (escutem Meking Glitter e imaginem uma faixa perdida dos tempos de Piper at The Gates Of Dawn, remexida depois nos tempos do glam rock).
As canções são peças pensadas num mapa feito com horizontes largos, abertas à presença de arranjos que, mesmo elaborados, nunca pesam. Cada canção transporta-nos a outras dimensões, tal e qual o faz um sonho, e parece sugerir um piscar de olho a uma época ou uma referência, como quem nos conta que é da soma de tudo aquilo que se faz a personalidade do duo que assina o disco. É contudo entre as marcas de autor que a solidez da composição, o aprumo dos arranjos e a interpretação que se afirma a unidade entre a aparente diversidade. Insecure Men é uma das mais surpreendentes coleções de canção pop que 2018 já escutou… E, sem dúvida, o melhor disco de Saul Ademczewski. A mudança fez-lhe bem.
“Insecure Men”, dos Insecure Men, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Fat Possum. ★★★★★
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