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Viajar no espaço… sem sair da sala

Texto: NUNO GALOPIM

Criado para a Houston Symphony, um programa de música com acompanhamento de imagens captadas pela Nasa chegou a Lisboa com a Orquestra Gulbenkian. “Os Planetas” de Holst esteve em destaque num programa que contou ainda com música de John Adams e Richard Strauss.

Nos cem anos da estreia da suite Os Planetas, de Gustav Holst, um concerto visual criado pela Houston Symphony chegou a Lisboa para, de sala cheia, aceitar aquela sugestão quase mágica do Dune de Frank Herbert: viajar no espaço sem sair do mesmo lugar… A ideia ganhou forma num programa de música orquestral que, sob a direção de Robert Ziegler, apresentava a suite Os Planetas como prato principal numa ementa que contou antes com Short Ride in a Fast Machine de John Adams e Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss. O twist, que fazia deste programa uma experiência diferente, morava acima da orquestra, num grande ecrã pelo qual foram projetadas imagens originalmente captadas em várias missões da Nasa entretanto sequenciadas e montadas numa produção de Duncan Copp e coordenação de Beth Krynicki.

Se a pequena (mas brilhante e pulsante) peça de John Adams nos “levou” ao espaço numa sequência de imagens que sugeria o lançamento de um space shuttle, já ao som de Richard Strauss tornou-se inevitável a associação entre música e imagens com a memória do bailado sideral que vemos numa das sequências de 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Explorando a presença da Estação Espacial Internacional e imagens da Terra captadas a partir do espaço a música de Strauss assegurava assim a banda sonora para a presença “visual” da Terra num programa que, com Os Planetas de Holst como destaque, na verdade olharia sobretudo pelos nossos parceiros no sistema solar.

Estreada em 1918 a suite de Holst não contemplava a presença de um mundo então ainda desconhecido. Em 1930 Plutão entrou em cena fazendo a obra de Holst parecer datada… A decisão, mais recente (e com a qual não concordo, mas enfim, não tenho voto na matéria) de remeter este mundo distante a um papel de planeta-anão, voltou a cumprir o papel de ilustrar “todos” os planetas do Sistema Solar além da Terra. Estes “retratos”, porém, devem mais a características astrológicas e mitológicas do que propriamente a uma relação de Holst com o que a astronomia do início do século poderia sugerir. As imagens provenientes de várias missões da Nasa transformam agora essas pistas presentes na música em marcas de identidade de olhares sobre os planetas que, com orquestra síncrona, ali acompanhámos na sala de concerto.

O primeiro andamento, que nos transporta a Marte, sugeriu mais um episódio de memórias quando, perante imagens de um voo simulado sobre o Valles Marineris, dei por mim a lembrar uma sequência marcante do episódio de Cosmos, de Carl Sagan, dedicado ao planeta vermelho… E se ao ver esse velho episódio despertou em mim um encantamento por Marte, este reencontro na sala de concertos teve um sabor especial. Quantas mais memórias ou sensações terão havido por ali entre os que enchiam a sala? Cada um terá a sua história com planetas para contar.

A história que a orquestra contou foi, contudo, apenas uma: a de uma brilhante execução. Com lirismo quando Venus pedia. Com intensidade marciana. Mistério em Saturno… E um encantamento raro em Neptuno, sublinhando pelo coro que (como manda a regra, na sala ao lado), nos transportou desse mundo distante para confins ainda mais longínquos do sistema solar.


Robert Ziegler

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