O que há de novo? Grandes canções! Não basta?
Texto: NUNO GALOPIM
Perante a edição de mais um disco de um artista ou banda já com expressiva discografia há, frequentemente, aquela tentação de perguntar: então o que há ali de novo? Há, de facto, obras que dão resposta a esta questão a cada novo lançamento… Veja-se o caso de uns Talk Talk, por exemplo, que a cada álbum apontaram a demandas de diferentes azimutes tanto nas formas das canções como na escolha dos instrumentos chamados à sua gravação. O mesmo não poderemos dizer dos Beach House, mesmo tendo o seu novo disco assinalado uma opção por não continuar o trabalho de estúdio com o produtor Chris Coady, chamando antes ao seu lugar Peter Kember (ou seja, o mítico Sonic Boom, que em tempos militou nos Spacemen 3 e desempenhou já funções de produção junto de nomes como os MGMT ou Panda Bear). Na verdade, e por evidentes que sejam algumas outras opções de detalhe formal entre este e (grandes) discos anteriores, a mais precisa resposta à questão acima enunciada – perante o álbum 7, dos Beach House – é muito simples e direta. O que tem de novo o disco? Uma belíssima coleção de canções. E, confesso, a resposta basta para que, então, o queria ouvir.
Três anos depois de terem lançado dois álbuns com poucos meses de distância entre si – Depression Cherry e Thank Your Lucky Stars – e um ano depois de terem fixado numa antologia uma série de canções originalmente lançadas em lados B de singles (juntando na ocasião ao alinhamento algumas raridades), eis que encontramos uma vez mais uma banda entregue à criação de belas canções que habitam um terreno que tem por paisagem distante as heranças shoegazer dos noventas e, por clima à sua volta, os sabores doces da chamada dream pop. Coisa de estetas com um apurado sentido de identidade, a música dos Beach House talvez acolha em 7 frestas de maior aparente luminosidade, que canções como Woo ou Lemon Glow revelam, num quadro instrumental que valoriza mais claramente a presença das eletrónicas. Mas, na essência, estamos numa região de personalidade bem demarcada. Melancolia intensa, canções desenhadas em modo suave, diálogos entre a voz de Victoria Legrand e jogos instrumentais sempre atentos ao detalhe, apoiados nas qualidades dos contrastes entre a clareza das linhas melódicas e uma produção que nunca esquece as possibilidades da reverberação da eletricidade, mas na verdade desenhadas com rigor e atenção.
Talvez estejamos ainda demasiado perto daquele ponto de encantamento que se segue aos momentos de descoberta. Mas 7 poderá “crescer” com o tempo para se juntar ao sublime Teen Dream, de 2010, na galeria das obras primas da discografia dos Beach House. É um disco magnífico!
“7”, dos Beach House, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Bella Union. ★★★★★
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