Prova de fogo
Texto: DANIEL BARRADAS
A capacidade de reinventar a tradição e reinvestir a clássica canção francesa de novo sangue é o toque de magia desta banda. Embora haja toda uma herança de nomes como Jacques Brel ou Serge Gainsbourg e o flirt inegável com as sonoridades euro-rock e psicadélicas dos anos 60 e 70, faixas como L’ivresse provam que a relação com o actual rap francês também existe e a dançável Zone libre contém ligação directa às electrónicas francesas contemporâneas.
O sangue novo corre notoriamente na veia poética da banda, assumida no nome, um tributo ao poeta Thomas Chatterton, e visivelmente aberta e sangrante na voz de Arthur Teboul, performer absoluto que sabe oscilar o seu registo entre o canto e a declamação, deixando-nos sempre na dúvida se estamos a ouvir grandes poemas musicados ou grandes canções palavrosas.
L’oiseleur é um álbum bem mais seguro e confiante do que o seu antecessor, capaz de começar calmamente, com as duas faixas talvez menos entusiasmastes do álbum, mas que nos predispõem para a viagem que se segue.
Este é um disco a ouvir repetidamente, do princípio ao fim, sem saltar faixas, um clássico automático pela capacidade de não se esgotar depois de inúmeras audições. A sua capacidade de construir cenários de intenso dramatismo é fascinante assim como o domínio da linguagem, a dicotomia entre som e significado da poesia que nos aparece como uma revelação. Se a língua francesa é uma das mais belas do mundo, aqui está ela apresentada em glória.
Mais do que oferecer-nos um dos álbuns do ano, os Feu! Chatterton inscrevem no céu, a fogo de artifício, o seu nome entre as bandas incontornáveis da década. Aplauso de pé!
Feu! Chatterton – “L’oiseleur” (Barclay) ★★★★★
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