Não é só fazer um bom álbum
Texto: GONÇALO COTA
E é ao terceiro álbum que Ben Howard parece querer experimentar uma atmosfera musical menos solarenga, convertendo-a não só às texturas mais convencionais da música folk, mas acrescentando-lhe novos contrastes com eletrónicas mais musculadas, com o som dos sintetizadores que aprofundam subtilezas e tons melancólicos. Um disco que lhe permite dar um passo em frente, sublinhando um querer moldar-se os ecos do tempo, mas sem esquecer as marcas identitárias, e numa tentativa de rejeição de ser refém de uma muito boa primeira obra: é seguro dizer Noonday Dream prescinde dos mesmos facilitismos que Every Kingdom, o seu primeiro longa-duração e que lhe valeu dois Brit Awards na edição de 2013.
Mas nem por isso o concerto deste domingo projetou-se para o sucesso. Apesar do dramatismo que o palco permitia, o jogo de luzes que criava e recriava dinamicamente espaços de intimidade, a projeção de elementos naturais que nos transporta para o universo de Walden ou A Vida nos Bosques ou o palco bem composto – dois bateristas, violinistas e violoncelista, baixista, guitarrista e teclas -, tudo foi incapaz de aliviar o alinhamento dialeticamente longo e sobranceiro e a pouca química criada, trocando poucas e tímidas palavras convencionais.
Se o grande defeito foi a incapacidade de criar um concerto conciso – foram mais de duas horas de concerto -, com a urgência de querer mostrar tudo de uma única vez, agravou-se quando a sede pelos êxitos como Only Love ou Keep your Head Up – e que poderiam ser os perfeitos modeladores do tom do concerto e manter cativa a energia efusiva de um Coliseu à pinha – não foi satisfeita. Fica para a próxima!
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