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Uma obra de referência na história pop dos anos 80

Texto: NUNO GALOPIM

Editado em 1987 o segundo álbum dos Pet Shop Boys é um dos maiores clássicos da sua discografia. “Actualluy” acaba de ser reeditado tanto no formato original em vinil como numa versão em CD que junta um disco extra com outras gravações desse período.

Muitas vezes podemos ser os piores autores de opiniões sobre o que fazemos. Um exemplo? No primeiro parágrafo do texto de abertura do booklet de uma nova reedição de Actually, álbum de 1987 dos Pet Shop Boys, Neil Tennant é citado a afirmar que a sua maior crítica ao disco é que “não tem a coesão de outros” dos álbuns dos Pet Shop Boys… Na verdade, e juntamente com a obra-prima que foi Behaviour (1990) e o manifesto de vitalidade nos diálogos entre a pop, a cultura da música de dança e o mundo digital de Very (1993), Actually é simplesmente um dos melhores discos de uma discografia farta em bons momentos, mas poucas vezes com uma coleção de canções deste calibre e tão capaz de se inscrever na história da cultura popular do seu tempo como sucedeu com este disco de 1987…

Um ano depois da estreia em álbum com Please, uns Pet Shop Boys robustamente amadurecidos apresentavam em Actually um dos melhores álbuns pop dos oitentas. Tal como sucedera com alguns temas do disco de estreia, curiosamente parte das canções vinha dos tempos em que o grupo trabalhara as suas primeiras maquetes, ainda sem contratos nem editoras por perto.

Menos centrada na valorização dos elementos rítmicos, a produção de Actually revela uma atenção maior pelo detalhe, que os arranjos (mais elaborados) também sublinham. O álbum abre com uma nova versão de One More Chance, que em 1984 havia sido o seu segundo single (assinado em conjunto por Bobby Orlando, cujas marcas de identidade são bem visíveis no instrumental). O alinhamento inclui depois clássicos maiores do grupo como It’s A Sin, Rent, Heart e uma parceria com Dusty Springfield em What Have I Done To Deserve This? E junta em It Copuldn’t Happen Here um dos momentos mais pungentes da lírica pop na idade da sida, numa canção que questionava se no Reino Unido se atingiria o patamar trágico que a doença entretanto havia atingido nos Estados Unidos. Contando com a colaboração de Ennio Morricone na escrita e com arranjos de Angelo Badalamenti, esta canção nunca foi editada como single (embora tenha dado título a um filme protagonizado pelo grupo) e, juntamente com King’s Cross, representa um dos momentos mais belos do álbum musicalmente exigente e liricamente profundo que confirmou em 1987 os Pet Shop Boys como uma força maior (e potencialmente duradoira) na história da canção pop.

A nova reedição tanto devolve aos escaparates o LP em vinil como se apresenta na forma de CD duplo – com o título Further Listening 1987-1988 – no qual, e segundo ditam as regras desta série de reedições, se juntam lados B, remisturas, maquetes e até mesmo faixas não incluídas nem no álbum nem nos singles dele extraídos, mas cronologicamente criados neste intervalo de tempo. Estão neste caso a versão de Always on My Mind (celebrizada por Elvis Presley nos anos 70) e Do I Have To, que conheceram edição em single e máxi em 1987.

Uma nota adicional deve ser feita sobre a foto da capa, que é um dos mais espantosos exemplos de utilização de um sentido de nonsense face às normas mais habituais da cultura pop em momento de cimentação mainstream de um fenómeno de sucesso global. Nunca um bocejo foi tão… pop. Curiosamente, e no mesmo texto do booklet, desta vez é Chris Lowe quem explica que não gosta da foto… Paciência!



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