16. Buddy Holly (1959)
Texto: NUNO GALOPIM
Num tempo em que se estava ainda longe de chegar às estruturas mais profissionalizadas de apoio a digressões em estrada, aquele início de fevereiro de 1959 chegou quase como uma tragédia anunciada. Tolhidos de frio em rotinas que, dia após dia, levava os músicos por cidades do norte dos EUA, Buddy Holly e os demais protagonistas da Winter Dance Party não pensaram duas vezes quando lhes foi dada a possibilidade de, em vez de correr mais horas de estrada com frio até aos ossos, apanharem um avião para a cidade mais perto do próximo concerto… Era uma noite de meteorologia ameaçadora. E o avião, muito pequeno, não chegou ao destino esperado… Pela noite dentro fez-se silêncio. E só na manhã seguinte a dimensão real dos acontecimentos se fez notar. O avião tinha-se despenhado não muito longe do local onde descolara, matando não apenas Buddy Holly, mas também Richie Valens e The Big Bopper. E foi assim que 3 de fevereiro de 1959 ficou conhecido como “o dia em que a música morreu”…
Com já alguns discos editados e uma carreira de sucesso já reconhecido, Buddy Holly (de seu nome real Charles Hardin Holley) foi então alvo de uma primeira edição antológica dedicada a um músico da geração rock’n’roll. Não já era novidade a edição de um LP que reunisse, após a morte de um músico, alguns dos seus temas de referência. Acontecera, por exemplo, com Hank Williams, depois de 1953. Mas Buddy Holly era o primeiro herói da história do rock’n’roll a desaparecer cedo demais. E foi por isso, sua, a primeira “história” de um músico da primeira geração do rock a ser assim reconhecida em disco.
Acompanhado por uma biografia impressa na contracapa, o alinhamento de The Buddy Holly recolhe tanto temas dos tempos em que o músico se fazia acompanhar pelos Crickets como canções já editadas a solo, ordenadas no alinhamento de forma a sugerir um fluxo como se de um álbum de originais se tratasse e não procurando seguir uma ordem crolonógica. De certa forma The Buddy Holly é a antologia que define o modelo do “best of” que sintetiza toda uma carreira. O álbum foi assim uma primeira peça na construção mitificada da memória de uma estrela da cultura pop. Figura atípica na imagem, firme na afirmação de personalidade na voz, no modo de tocar guitarra, na própria escrita. Dylan, Lennon e Jagger chegaram a vê-lo ao vivo… Uma versão de That’ll Be The Day chegou a ser gravada pelos Quarrymen (a banda de Lennon que precede os Beatles). E, em 1964, o primeiro top 10 dos Rolling Stones faz-se com uma versão de Not Fade Away, uma canção composta por Buddy Holly, quando ainda assinava como Charles Hardin… Poucos tiveram tão distintos herdeiros…
“The Buddy Holly Story” conheceu edição original em 1959 pela Coral nos EUA e, ao mesmo tempo, em diversos outros territórios. O disco conheceu algumas reedições, sobretudo nos anos 60 e 70 e chegou a ter uma versão em CD, replicando a capa original, na Alemanha, em 2001. Na idade do CD o catálogo de Buddy Holly foi revisitado com outras antologias e outros alinhamentos,
Da discografia de Buddy Holly vale a pena descobrir álbuns como:
“The Chirping Crickets” (1957) – como Buddy Holly & The Crickets
“Buddy Holly” (1958)
“That’ll Be The Day” (1958)
Se gostou, experimente ouvir:
Eddie Cochran
Richie Valens
Del Shanon
Já abordados nesta lista:
1. Yma Sumac, “Voice of The Xtabay” (1950)
2. Les Baxter and His Orchestra, “Ritual of The Savage” (1951)
3. Georges Brassens, “Georges Brassens chante les chansons poétiques (…et souvent gaillardes) de… Georges Brassens” (1952)
4. Odetta, “The Tin Angel” (1954)
5. Harry Belafonte, “Calypso” (1956)
6. Elvis Presley, “Elvis’ Christmas Album” (1957)
7. Dalida, “Son Nom Est Dalida” (1957)
8. Ruth Brown, “Rock and Roll” (1957)
9. Johnny Cash, ““Johhny Cash with His Hot and Blue Guitar” (1957)
10. Martin Deny, “Exotica” (1957)
11. Spike Jones, “Dinner Music For People Who Aren’t Very Hungry” (1957)
12. Duane Eddy, “Have Twangy Guitar Will Travel” (1958)
13. Peggy Lee, “Things Are Swingin’” (1958)
14. Esquível, “Exploring New Sounds In Stereo” (1959)
15. Babatunde Olatunji, “Drums of Passion” (1959)
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