Os The Art of Noise, segundo Anne Dudley
Texto: NUNO GALOPIM
Há quem associe o seu nome a bandas sonoras de cinema e de séries de televisão. Há quem conheça o seu trabalho como compositora e chefe de orquestra em salas de concerto. Há quem sinta a sua presença em arranjos de cordas ou como teclista de estúdio em canções de nomes tão diferentes como os de Marc Almond, Malcolm McLaren, George Michael, Frankie Goes To Hollywood, A-ha, Tina Turner, Pet Shop Boys, Pulp, OMD, Propaganda, Annie Lennox ou Wham!… Mas por muitas experiências que a sua vida tenha somado ao currículo, é pelo trabalho nos Art of Noise que o seu nome conhece talvez o mais destacado reconhecimento. Juntamente com Gary Langan, J. J. Jeczalik, o produtorTrevor Horn e o jornalista Paul Morley, Anne Dudley fez do grupo a experiência de vanguarda que definiu um caminho de trabalho para uma editora que queria ser mais do que uma mera fábrica de discos. Tinha um programa estético. E até mesmo uma linguagem de comunicação. Marcou um tempo e deixou um legado que, apesar do impacte de outros discos, ainda hoje tem no álbum Who’s Afraid of The Art Of Noise, de 1984, o seu paradigma.
Anne Dudley foi a única figura presente em todos os álbuns dos Art of Noise. Desde as visões de uma pop sofisticada lançadas no EP Into Battle With The Art Of Noise em 1983 e a homenagem a Debussy em The Seduction of Claude Debussy de 1999, o espectro de visões que o grupo experimentou corresponde em muito a expressões de identidade da compositora. Talvez por isso, agora, um disco no qual a vemos a reinterpretar peças dos Art Of Noise (e não só) com o piano como voz principal, essa vastidão de lugares afinal defina um trilho com personalidade e identidade comum bem vincada. As abordagens são propostas de leitura que somam por um lado as memórias e, por outro, o desejo de as não deixar cristalizar. Nenhuma destas novas abordagens, contudo, ofusca em nada as gravações que estão na base de tudo. Uma saborosa curiosidade para admiradores, portanto. Mas não mais do que isso.
Como curiosidade vale a pena notar semelhanças entre o grafismo desta nova edição e a memória da linguagem gráfica das primeiras edições dos Art of Noise, nomeadamente o EP de 1983. E, já agora, reparar como a própria pré-história da visão pop que a ZTT Records representou está aqui devidamente citada numa leitura de Video Killed The Radio Star, dos Buggles, banda onde militava Trevor Horn (um dos fundadores da ZTT). Isto está tudo ligado…
“Plays The Art of Noise”, de Anne Dudley, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Island Records.
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