Prince merecia uma exposição melhor…
Texto: NUNO GALOPIM, em Amesterdão
O sucesso (justificado) da exposição David Bowie Is, que o londrino Victoria & Albert Museum apresentou em 2013 e que, depois, correu mundo chamando números recorde de visitantes, abriu um novo (e novamente justificado) espaço para as expressões contemporâneas da cultura pop como universo a explorar pelos museus. Pink Floyd ou Rolling Stones foram nomes que, entretanto, conheceram tratamentos semelhantes. Prince, que entretanto viu o complexo de Paisley Park transformado num museu, era inevitável presença neste universo. E a ideia de uma exposição que junte guarda roupa, instrumentos, objetos pessoais e imagens, não deixaria certamente ninguém indiferente.
Patente num espaço bem central no coração da zona mais antiga de Amesterdão – com uma presença prolongada dada a procura verificada – a exposição “oficial” My Name Is Prince representa uma forma itinerante de, longe de Paisley Park (num subúrbio de Minneapolis), podermos contactar com memórias de Prince. As das canções (que podemos ali escutar), das imagens (que podemos ali ver) e dos objetos que assim estabelecem uma ligação material entre o visitante e aquele de quem se fala.
E, de facto, no plano dos objetos, dos sons e das imagens, o lote de memórias reunidas naquela sucessão de salas é coisa gourmet. Estão ali algumas das primeiras guitarras que Prince usou em digressões e presenças televisivas nos primeiros tempos de carreira. Roupas que usou na mítica etapa Purple Rain, bem como de vários momentos posteriores, desde fatos usados no teledisco de Raspbery Beret ou Batdance, na rodagem de Under A Cherry Moon, Sign O’The Times e Grafitti Bridge, bem como em várias digressões e telediscos mais recentes. Há alguns certificados da indústria discográfica, capas de discos, fotografias. Há (muitos) ecrãs com telediscos e gravações de concertos e atuações televisivas (que podemos acompanhar sem incomodar o vizinho do lado, já que a cada visitante é cedido um headset que “escuta” os sons com tecnologia wireless). Há memórias de Pailsey Park. E até um mural onde cada um pode deixar a sua homenagem.
À exposição falta contudo uma curadoria museográfica mais aprumada. Que, tal como faz nas (brilhantes) salas que nos contam a história entre For You e 1999 e, logo depois, a etapa Purple Rain, consiga manter um rumo cronológico ou de mais evidente ordenamento temático do que ali se vê. Que fique claro: o acervo é incrível, sobretudo nas peças de guarda roupa e no material audiovisual. Mas, além de hagiográfica, a narrativa peca por não saber contar a história como aquele grupo de objetos, sons e imagens justificaria. Com outra museografia, My Name Is Prince poderia ser quase do calibre de David Bowie Is. Mas não é.
PS. Uma loja de merchandising com dieta de ideias no final do percurso sublinha o que há de menos bom em tudo isto: um pensamento artístico e historiográfico sobre Prince.
“My Name is Prince” está patente no Beurs van Berlage, em Amesterdão, até 5 de agosto
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