Três sugestões por dia para o NOS Alive 2018
Seleção e textos: NUNO GALOPIM
Vamos hoje para o terceiro e último dia da edição 2018 do NOS Alive… Entre os palcos passam nomes e mais nomes, num cartaz que tanto propõe reencontros como estreias absolutas. Em jeito de pistas estamos a deixar aqui algumas sugestões. Não são “o melhor do dia”, mas escolhas pessoais que aqui partilho.
Dia 3 – Sábado, 14 de julho
Com as atenções de muitos concentradas na atuação dos Pearl Jam e também com promessas de bons momentos de travo clássico com Jack White, de exemplos do que do melhor se faz entre nós com The Gift e Xinobi e ainda de novos episódios de descoberta de caminhos que a música mais dançável está a trilhar pelo globo fora, as sugestões que aqui deixo são hoje, todas elas, feitas de reencontros com nomes que me são caros e cujas obras tenho seguido com atenção.
E comecemos pelo fim… Será o concerto a fechar esta edição do festival, com encontro marcado frente ao Palco Sagres pelas três da manhã. Revelado em 2010 com Learning, Mike Hadreas tem vindo a construir, através do projeto Perfume Genius, uma das mais interessantes obras do presente, mostrando as suas canções marcas de personalidade e identidade que o fazem um caso em tudo ímpar. É verdade que o mais recente No Shape pode não ter sido um disco no patamar dos imediatamente anteriores Put Your Back N 2 It e Too Quiet. Mas consta que está um artista de palco mais cativante do que nunca. A ver!
Quando descobrimos as canções do álbum de estreia Oracular Spectacular, os MGMT imediatamente entraram na banda sonora dos momentos indie mais contagiantes da reta final da primeira década do século. Seguiu-se um segundo disco ainda mais delicioso, embora sem o mesmo impacte comercial e, depois, um terceiro que parecia indiciar um esmorecer das ideias… O mais recente Little Dark Age, editado este ano, serviu um golpe de rins feito de boas canções. Estão de regresso aos seus momentos de grande forma. E, aparentemente, com a casa mais arrumada…
Os Franz Ferdinand foram a banda mais contagiante entre uma geração que reencontrou nas guitarras as ferramentas para recriar um som pop/rock anguloso e dançável com claras relações com heranças das visões do pós-punk. O seu álbum de estreia, em 2004, foi irrepreensível e, no segundo, ainda nos deram motivos de entusiasmo maior. Reencontramo-los agora com uma nova formação e uma abordagem às mesmas gramáticas pop contando, contudo, com uma mais destacada visibilidade da contribuição das eletrónicas. Vamos ver como as mudanças se mostram em palco…
Dia 2 – Sexta-feira, 13 de julho
Os reencontros com alguns dos naturais protagonistas do cartaz vão, sem surpresa, dominar as atenções num dia que, mesmo aberto à diversidade de propostas, tem mais vitaminas rock’n’roll no menu. Das sugestões que aqui deixo hoje uma não escapa a um desses reencontros. As outras terão mais o sabor da descoberta.
Comecemos pelos os Eels, que são uma instituição indie norte-americana, espelho criativo da figura e personalidade de Mark Everett, a alma criativa e voz que anima esta narrativa feita de canções. Editado há poucas semanas, The Deconstruction é o 12º álbum que Mark Everett grava como Eels (antes registou dois outros apenas como E) e surge após um hiato de quatro anos no qual se falou inclusivamente de que iria deixar de fazer música. O hiato tratou-o bem no plano pessoal e neste disco encontramos aquelas canções características de quem quer fazer pazes consigo e o mundo ao seu redor. Um álbum suave, para contrastar com o clima tenso dos dias que vivemos.
O palco Clubbing vai estar hoje particularmente atento a ecos do que são os caminhos da música de dança pelo globo fora. E se Branko é ali uma figura que nos garante um momento imperdível de palco há outros nomes a juntar a uma jornada que pode trazer surpresas. Uma delas pode chegar de Itália com Populous, um produtor (de nome Andrea Mangia) que chega de Lecce, cidade que muitas vezes é apontada como a Jamaica italiana pelo modo como o reggae e a cultura dancehall ali ganharam adeptos. Populous tem já uma obra com vários discos editados e, no ano passado, editou o álbum Azulejos, no qual encontrávamos este delicioso Crú, com a voz de Nina Miranda.
Uma outra surpresa pode chegar com o som do coletivo Kokoko!, da República Democrática do Congo. O projeto nasceu da reunião de uma série de músicos com vivências mais próximas de um labor punk com o trabalho do produtor francês Débruit (Xavier Thomas é seu nome real). Lixo eletrónico, ideias, viço, definem um som que chega de Kinshasa.
Em jeito de sugestão extra para esta viagem dançável pelo mundo no palco Clubbing fica ainda o nome que vai fechar a noite atuando pelas 2.40 (logo depois de Branko). Trata-se de DJ Lag, nome que nos abre uma frente de atenção pelos cruzamentos que ganham forma neste momento na África do Sul. E que é nome de proa do gqom, uma derivação nova da house que, surgida em Durban, começa agora a chamar atenções em outras latitudes.
Dia 1 – Quinta-feira, 12 de julho
É claro que a prova do palco para o álbum Tranquility Base Hotel & Casino, dos Arctic Monkeys, que saudavelmente tem dividido tantas opiniões, será um dos destaques do dia. A ver, decididamente. Igualmente apetitosa é uma proposta de reencontro com o veterano Bryan Ferry e a possibilidade de ouvir o britânico Sampha ainda sob os ecos diretos do magnífico álbum editado em 2017. Isto sem esquecer as inúmeras frentes de atenção que os diversos palcos dão a várias áreas da música portuguesa que se faz neste momento.
Mas, para acertar contas, aqui ficam as três sugestões do dia. Todas elas em clima de descoberta…
A primeira, logo pelas 18.50, no Palco Sagres, chegará com a francesa Jain. Duas décadas depois de nomes como os Air ou Daft Punk terem cimentado a inscrição da França como um pólo de agitação na criação de uma nova canção pop eletrónica, Jain é uma das representantes de uma nova geração que, a essa raiz junta uma vivência que soma cores e sabores com uma música pop que escuta pistas em várias geografias (nasceu em África, viveu pontualmente em Abu Dhabi) e expressa luz e entusiasmo. Com as eletrónicas como ferramentas principais e um apurado sentido de produção. Zanaka, em 2016, foi promissor cartão de visita. Porém os singles já conhecidos do novo álbum, que chegará em finais de agosto, sugerem que possa ser disco a ouvir com atenção.
Pelas 23.05, ainda no Palco Sagres, passa Khalid, uma das promessas maiores de uma nova geração de vozes de escola soul. Se por um lado pode ser aqui interessante sentir os jogos de semelhanças e contrastes com Sampha (e sempre houve rotas de aproximação e divergência entre as vozes soul britânicas e americanas), por outro temos a possibilidade de acompanhar, em estreia num palco nacional, uma figura que inscreveu em American Teen, editado em 2017, um refrescante olhar sobre caminhos possíveis para diálogos entre a canção pop e as heranças do rhythm’n’blues no século XXI, num terreno onde a presença das eletrónicas e um ponto de vista nítido sobre a produção se revelam fulcrais.
A terceira sugestão de descoberta que aqui fica chegará ao fim da noite ao Palco NOS Clubbing. Será aí que, pelas 03.10 poderemos ouvir Sophie, esteta que se perfila numa região de vanguarda do trabalho com as eletrónicas tal como o fazem (com as respetivas marcas de identidade) nomes como Arca ou Dainel Lopatin (o homem que se guarda por detrás da designação Oneohtrix Point Never). Sophie, que recentemente colheu um elogio colossal de Brian Eno – e ele não é homem de tecer elogios a qualquer um – apresentou há poucas semanas no álbum Oil Of Every Pearl’s Um-Insides uma proposta de ação e desconstrução de elementos, com a canção como base de trabalho, embora sob prismas e abordagens formais que podem não ser de assimilação imediata. A prova de palco poderá ser, neste caso, um importante elemento para chegar a mais claras conclusões.
Para acompanhar a par e passo o que ali se passa podem seguir as emissões da RTP (na RTP1, na plataforma RTP Play e também no site a que podem aceder aqui).
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