A aventura pop de Luke Haines
Texto: NUNO GALOPIM
Um dos mais talentosos autores de canções revelados pelos anos 90, Luke Haines começou por revelar o seu trabalho através dos The Auteurs, banda sonicamente centrada no trabalho para guitarras que se estreou em 1993 com New Age, álbum de estreia que justificadamente cativou atenções. Com o tempo, foi alargando os horizontes e ensaiando outros caminhos, propondo as novas ideias em novos projetos. Um deles, aos quais chamou a colaboração da vocalista Sarah Nixley e do baterista John Moore (que tinha integrado os The Jesus & Mary Chain), apresentou-se em 1998 com o álbum England Made Me, sob a designação Black Box Recorder.
Ao contrário da experiência que havia proposto em 1996, assinada como Baader Meinhof, Luke Haines deu continuidade ao projeto Black Box Recorder, o trio tendo inclusivamente assumindo o espaço de maior protagonismo da sua atenção após o fim dos Auteurs, em 1999. Editaram então Facts of Life (2000) disco no qual, depois das canções mais frágeis, desenhadas por discretas guitarras e percussões, do álbum de estreia, se ensaiava uma nova elegância suave, vincando o auxílio das eletrónicas. O tema-título fez-se notar e o álbum também.
O mesmo não aconteceria em Passionoia, terceiro álbum do trio, editado em 2003 sob estranho e injusto silêncio mediático. Triste destino para um dos melhores álbuns pop da década que abriu o século, herdeiro (tal como os melhores discos dos Staint Etienne) de um saber pop made in England que ali conheceu uma das melhores coleções de canções do seu tempo. De novo Passionoia juntava ao som dos Black Box Recorder uma vibração dançável mais intensa, valorizando os diálogos entre guitarras, eletrónicas e voz já escutados no disco anterior e mostrando afinidades com caminhos há muito trilhados pela luminosidade da música de uns Pet Shop Boys.
Retratos ‘brit’ do seu tempo, sob um prisma que tanto sabe observar como comentar com algum sarcasmo, as canções de Passionoia refletem também o sentido melómano dos seus autores, com hinos maiores em Being Number One e, mais ainda, em Andrew Ridgley, que evoca o companheiro de George Michael nos Wham!. Elegante (e a voz sussurrante de Sarah assegura uma certa paz às formas), melodista, garrido e cheio de luz pop, Passoinoia é tesouro a revisitar.
Os três álbuns são revisitados nesta caixa que junta um quarto CD com temas extraídos de singles e de sessões gravadas para a BBC e, ainda, um DVD que reúne imagens de atuações do trio e ainda os quatro telediscos que criou para as suas canções. Pena a revisitação da obra não ter previsto as reedições dos álbuns em vinil, sobretudo de Passionoia.
“Life Is Unfair”, dos Black Box Recorder, é uma caixa de 4CD e um DVD editada pela Caroline International.
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