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Três discos (pop) frescos para o verão

Texto: GONÇALO COTA

Os novos álbuns de Let’s Eat Grandma, Years & Years e o EP de Childish Gambino ficam aqui como sugestões para refrescar um verão que se está a revelar pouco fértil em boas surpresas musicais.

Olly Alexander, dos Years Years

Let’s Eat Grandma, “I’m All Ears”

Em I’m All Ears, a paisagem musical das amigas Rosa Walton e Jenny Hollingworth não é senão requinte e inovação. Art pop torrencialmente luminosa e radioativa, inflamada por elementos de vanguarda, parafernália futurista de sintetizadores e guitarras equilibrados na voz doce, vulnerável para criar um clima de muitas atmosferas, desafiando e reconfigurando (à sua maneira) ideias de equilíbrio e unidade.

Os dois interlúdios, Whitewater e Missed Call (1), impõem-se como marcadores do caleidoscópio musical das duas amigas: a primeira parte de essência mais sónica e eletrónica, com destaque para a envolvente e viscosa Hot Pink (SOPHIE emprega, aqui, a sua fantástica capacidade de produção), contrasta com o estoicismo da segunda metade, onde figuram as alongadas Cool & Collected e Donnie Darko. I’m All Ears é um brilhante lugar de conforto para as ideias de emancipação e identidade, preocupações comuns de duas adolescentes… Sim, as Let’s Eat Grandma têm apenas 19 anos. Mas não se deixem enganar pela idade (e olhando para a produção discográfica da primeira metade de 2018): este, que é apenas seu segundo longa-duração, será um dos melhores do ano.

Years & Years, “Palo Santo”

O novo álbum do trio britânico Years & Years foca-se (novamente) nas, sucessivas negociações identitárias, trazendo agora uma antítese: a iconografia religiosa como metáfora para explicar a vivência queer de Olly Alexander, pautada por um certo desencantamento com o secretismo das lógicas relacionais. Contradições à parte, Palo Santo é electro pop competente e açucarada, mas pouco desafiante e com fórmulas genéricas.

O corpo de 11 canções, 14 se incluirmos as três (muito boas) faixas bónus da versão deluxe, apresentam um fio condutor que interliga a R&B e a sonoplastia ao jeito das boy bands dos anos 90 à pop de hoje. As baladas Here ou Hypnotised são apenas momentos localizados e distantes de um conjunto de eletrónicas dançáveis, sendo as mais bem oleadas Hallelujah e Up in Flames. Se a utilização do palo santo remete para os rituais de limpeza espiritual em várias culturas sul-americanas, Palo Santo de Olly Alexander tem as texturas suficientes para purificar qualquer pista de dança.

Childish Gambino, “Summer Pack” (EP)

Summer Pack apresenta-nos uma pop de expressões tropicais e pacíficas – surpreendentemente, bem longe da expressão musical, da violência das imagens e reflexões que estabeleceu na canção This Is America – baralhando a ideia de que Childish Gambino evitaria modelos simplistas de como abordar a canção e que ali se escutaria, por toda a parte, os ecos de uma sociedade em ebulição.

Contando apenas com duas músicas dançáveis e leves, mas grosseiramente inexpressivas e desimaginativas, o novo EP serve de (mau) adiantamento ao seu quarto longa-duração. É, no entanto, na diversidade que se encontra o seu epicentro criativo: um percurso que subverte a ideia de consolidação, Childish Gambino apresentou visões que navegaram primeiramente pelo rap (Camp e Because The Internet), posteriormente pela simbiose entre o funk e o R&B (Awaken, My Love!), sendo que agora (parece) querer recorrer à genética da canção pop. É esperar (à beira-mar) para ouvir.

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