Ecos da pop americana dos oitentas habitam a alma de “No Signal”. O segundo álbum de Elle Belle é, contudo, um olhar bem atual sobre as divisões políticas e socais que caracterizam a América dos nossos dias.

Elle Belle foi o nome que, há uma mão cheia de anos, Christopher Pappas, natural do New Hampshire (mas com vida entretanto feita em Los Angeles), encontrou para canalizar a demanda por caminhos diferentes aos que antes havia já seguido profissionalmente na música. Em 2016 um primeiro álbum deu conta de mudanças em curso. Mas os resultados das eleições presidenciais desse mesmo ano e o consequente questionar do universo ao seu redor acabaram por ser o verdadeiro mote para a criação do conjunto de canções que fazem agora, de No Signal, um espaço de reflexão sobre a América do presente, no formato de um alinhamento de canções pop.

Um certo clima retro, sugerido pela instrumentação e modelos de produção que evocam a power pop e a pop eletrónica americanas dos oitentas (sem esquecer episódios mais claramente pensados em zona indie), domina as paisagens que, no plano das palavras, traduzem o tom sombrio que cruza canções que usam cenas do mundo quotidiano para falar de uma nação politica e socialmente dividida, expressando sobretudo sinais de dúvida e preocupação. Não é daqueles discos que fazem revoluções nem, também, um potencial vórtice de um qualquer fenómeno de culto que possa emergir ao seu redor. Mas não só é um cativante disco pop, sonicamente bem ancorado em memórias que evoca sem se esgotar em manifestações de nostalgia já que, afinal, nos fala do mundo de hoje.

“No Signal”, de Elle Belle, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Little Record Company ★★★★