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21. The Electrosoniks (1962)

Texto: NUNO GALOPIM

Uma lista com discos que não costumam figurar nas tabelas habituais. Este foi editado em 1962 e traduziu a segunda experiência conjunta de dois pioneiros da música eletrónica, que aqui juntavam à exploração dos sons uma lógica de construção melódica que sugere caminhos para uma abordagem pop.

Pioneiros da música eletrónica e responsáveis por alguns dos seus primeiros flirts com linguagens mais próximas de terrenos pop, os holandeses Tom Dissevelt (1921-1989) e Kid Baltan, de seu nome real Dick Raaijmakers (1930-2013) tiveram formação no conservatório de Haia, respetivamente em trombone e piano. Desenvolveram primeiros projetos em separado até que, em finais da década de 50 se viram a trabalhar conjuntamente no Phillips Netlab, a divisão de investigação da marca, onde exploravam as possibilidades técnicas de emergentes aparelhos estéreo e de novos instrumentos eletrónicos. Daí até começarem a fazer música em conjunto foi um passo.

Admiradores do trabalho de Karlheinz Stockahusen – nessa altura uma das mais importantes figuras das vanguardas na área da música eletrónica – a dupla Dissevelt / Beltran estreou-se em disco em 1959 com The Fascinating World of Electronic Music (ainda a aguardar reedição), disco que revelava paisagens e linhas melódicas que traduziam ambientes com sabor a ficção científica. Dois anos depois, apresentando-se como The Electrosoniks, Tom Dissevelt e Kid Baltan mostravam ao seu segundo álbum, Electronic Music, uma visão ainda mais ambiciosa desta sua demanda conjunta.

No texto da contracapa é chamada a nossa atenção para o facto de “haver três tipos de música eletrónica”. Um deles sendo o que manipula sons captados no mundo, real, outro a criação de sons de raiz feita por instrumentos eletrónicos, representando a terceira via a soma dessas duas outras. É nesta terceira via que o texto inscreve este disco.

Expressão clara de uma música de laboratório, uma vez que a maquinaria necessária para criar, manipular e gravar estes sons era coisa que não se encontrava num qualquer estúdio, mas sim em laboratórios áudio associados ora a estações de rádio ou marcas de aparelhos, a ideia explorada em Electronic Music representa um passo acima da mera exploração contemplativa dos sons criados por osciladores e outras maquinarias. Além do desenho de ambientes, as composições traduzem uma vontade em criar acontecimentos melódicos, acrescentando assim aos cenários uma proposta narrativa… As primeiras sementes para a criação de canções pop com eletrónicas nascem por aqui. Não admira que David Bowie tivesse esta dupla de compositores holandeses entre as suas referências.

“Electronic Music”, dos The Electrosoniks, teve primeira edição em LP pela Phillips em 1962, tanto em versão mono como estéreo. Em 1968 o disco foi reeditado com nova capa e o título “Song Of The Second Moon: The Sonic Vibrations Of Tom Dissevelt & Kid Baltan”, deixando de apresentar a designação The Electrosoniks, optando por usar o nome dos dois músicos. O disco conheceu uma edição em CD em 2015 usando tanto a capa como o título desta reedição de 1968. Uma reedição fiel ao título e capa original surgiu, já em 2018, em LP com uma tiragem de 500 exemplares (numerados) pela editora italiana Fantôme Phonographique.

Da discografia de Tom Dissevelt e Kid Baltan vale a pena descobrir discos como:
“The Fascinating World of Electronic Music ” (1959)
“Electronic Music” (1961), single
“Fantasy in Orbit” (1963) de Tom Dissevelt

Se gostou, experimente ouvir:
Raymond Scott
Louis e Bebe Barron
Karlheinz Stockhausen

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