Uma casa para a banda desenhada em Bruxelas
Texto e fotos: NUNO GALOPIM, em Bruxelas
Basta andar pelas ruas de Bruxelas para que se dissipem as dúvidas. Aquela é mesmo a capital europeia da banda desenhada, havendo frequentes murais que dão conta do modo como aquelas figuras habitam a cidade e são peças estruturais da sua identidade. Se as livrarias são paragem apetecível para quem gosta de BD há contudo uma paragem mais do que obrigatória. Não apenas pela (magnífica) livraria que ocupa a metade esquerda do piso térreo, mas pelas exposições que permitem ali desenhar olhares diversos sobre este universo.
Um dos muitos murais com figuras de BD nas ruas de Bruxelas
O Centre Belge de la Bande Dessinée ocupa um edifício de arte nova com parte da estrutura em metal e vidro que é coisa linda de ver mas terrível de frequentar em dias de verão (já que a ideia de ar condicionado não parece fluir ali, pelo menos no dia em que por lá passei). Independentemente desse detalhe “ambiental” o edifício é uma joia da arquitetura de arte nova da capital belga e foi inicialmente concebido por Victor Horta como um grande armazém de grandes lojas, tendo aberto as portas em 1906. Depois de obras de adaptação, o Centre Belge de la Bande Dessinée tomou aquele lugar em 1989.
O lugar não engana. À entrada, além da livraria, vemos um modelo (em tamanho real) de Lucky Luke montado no seu cavalo. Em frente está Spirou… Mais adiante, o foguetão que levou Tintin à Lua. E ao cimo das escadas, junto à bilheteira, o próprio Tintin, o capitão Haddock e Milou com os respetivos fatos de astronauta.
Entre as muitas propostas que ali estão à nossa disposição (e entre elas estão circuitos turísticos com a BD por tema, que ali podemos marcar) há no centro uma zona de exposições permanentes, uma galeria e uma área dedicada a exposições temporárias.
As exposições permanentes falam-nos da história da banda desenhada, explicam como se parte da ideia ao livro, observam os principais géneros (sobretudo os presentes no universo da BD franco-belga) e juntam ainda alguns “nichos” dedicados a autores de referência como Hergé ou Peyo.
O programa de exposições temporárias é sempre merecedor de atenção. E neste momento continua ainda ali patente (até setembro) uma espantosa mostra sobre a banda desenhada na China. É particularmente interessante reconhecer ali, além das expressões de identidade cultural, o papel que a banda desenhada tomou como ferramenta de um discurso de propaganda (sempre tão caro a qualquer regime totalitário).
Estão também ali patentes outras duas exposições temporárias. Nos pisos superiores, repartindo o protagonismo com a BD chinesa, há uma mostra dedicada a Catel, autora de romances gráficos. Na galeria do piso intermédio uma outra exposição evoca a figura do Super Vip.
O centro tem ainda uma biblioteca, auditórios e uma programação que faz ter pena de Bruxelas não ser ali ao virar da esquina…
Podem consultar aqui o site do centro.
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