Quando os cartazes faziam a vez dos ‘tweets’ e dos ‘memes’
Texto: NUNO GALOPIM, em Bruxelas
Há um novo museu em Bruxelas que vale a pena ter em conta entre o mapa de espaços que hoje refletem sobre as formas de arte do nosso tempo e o modo como refletem o nosso quotidiano como sociedade e traduzem a nossa história política recente. O Mima nasceu nos espaços de uma antiga fábrica de cerveja nas margens do canal que atravessa a capital belga. E neste momento dedica as suas salas a uma exposição que junta uma impressionante coleção de cartazes políticos de finais dos anos 60 e inícios de 70.
Antes dos ‘memes’, dos ‘tweets’, das ‘hashtags’ e de todas as formas de comunicação que o presente usa para veicular formas de luta ideológica outras ferramentas tomavam esse papel. Com uma carga ativista, que junta ao fulgor do combate político formas de expressão artística que, ao seu jeito, acabaram por manifestar algo não muito distante daquilo a que hoje chamamos ‘street art’, o cartaz político pode ser também uma forma de contar a nossa história contemporânea.
Para focar ideias a exposição escolheu um intervalo de tempo, procurando juntar cartazes que surgiram entre 1968 e 1973, ou seja entre o agitado ano que assistiu aos movimentos estudantis em França ou às mortes de Martin Luther King e Bobby Kennedy nos EUA, e a retirada das tropas americanas do Vietname. Não se tratam de cartazes de propaganda eleitoral, mas antes de espaços de texto e imagem que fixaram expressões de protesto, muitas delas associadas aos movimentos estudantis que foram eclodindo por aqueles tempos, ou nas frentes de luta pela paz ou pela igualdade dos direitos civis que então faziam também o quotidiano das vozes de protesto nos EUA, entre muitas outras causas. Uma linguagem visual simples, concisa e slogans poderosos eram ferramenta de comunicação. E, colados nas ruas, estes cartazes traduziram sinais dos tempos que, agora, à distância dos anos que passaram, dão conta de como a humanidade progrediu… Ou nem por isso…
A exposição tem por título Get Up – Stand Up, e logo aqui sentimos o poder da utilização de um slogan, que tem a si associado um som. Sim, o da canção de Peter Tosh e Bob Marley que este último imortalizou.
O percurso está organizado tematicamente. Começamos por ser confrontados com uma contextualização que, no tempo e nas geografias, nos conta que história é aquela que Get Up – Stand Up nos conta através destes cartazes. A história continua depois explicando como surgiam os ateliers que produziam estes cartazes. Há uma secção essencialmente focada na Guerra no Vietname, uma outra centrada em lutas de minorias pela igualdade de direitos e ainda outra sobre focos de luta contra regimes opressivos. O recurso à sátira e modos diferentes de usar a cor e a forma ocupam outro segmento da exposição. Um outro reflete ainda outro medo que então cruzava o planeta: o temor de uma guerra nuclear.
A loja do museu é relativamente pequena mas tem disponível um (excelente) livro que junta as imagens de todos os cartazes apresentados.
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