Feist: o prazer é todo nosso
Texto: GONÇALO COTA
Mal entra em cena (e fortemente aplaudida), Feist, através de um daqueles tradutores com vozes incrivelmente robotizadas, explica-nos que o que lhe aconteceu à voz. “É uma história normal” – ouve-se a ecoar por entre o (composto) Coliseu. “Um resfriado me pegou em Bruxelas e me persegui até Paris, raptou a minha voz em Braga. (…) Estou muito insegura do que pode acontecer” (sic). Não devia. Há segurança imprimida na sua voz, há segurança na naturalidade e fluidez com que dinamizou permanentemente a sua relação com o público, com que se move no palco, para que este não se agigante perante si.
Mas são alguns anos de estrada: a canadiana celebra – durante o próximo ano – vinte anos de carreira, alguns deles como membro integrante da banda Broken Social Scene, outros a desenhar a solo paisagens musicais suspensas em composições pop folk, com um constante sentido relacional entre os elementos naturais e a sua própria vida. O quinto álbum, Pleasure, suprime eventuais acessórios e detalhes, reinventando o seu registo simples (sem ser simplista ou lívido) de voz e guitarras, através de um conjunto de canções que pretende fazer uma radiografia à sua autoconsciência.
Durante duas horas, contou-nos sobre as eventualidades da sua vida e dos que a rodeiam – do companheiro criativo que acabara de se mudar para Lisboa, da embriaguez emocional associada ao fim de um ciclo de concertos, da viagem que fez por Portugal, onde não faltou “bom vinho e pastéis de nata”. E cantou-nos de forma muito similar ao registo em estúdio quase a totalidade das músicas que compõem o alinhamento de Pleasure (daqui, ficou a faltar, particularmente, a fantástica Lost Dreams), mas houve espaço para escutar as ressonâncias da sua carreira, canções que a deram a conhecer como uma das mais interessantes cantautoras da cena indie – destaque para “1234” e “The Limit to Your Love”. Fechou-se, assim, o ciclo de Pleasure: numa noite morna, e mais quente ficou, habitada pela incandescência de Feist.
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