Alix, a maior criação de Jacques Martin, faz 70 anos
Texto: NUNO GALOPIM
Jacques Martin trabalhou na revista Tintim e foi durante alguns anos um colaborador de Hergé. Com o tempo ganhou um lugar na linha da frente dos grandes autores de BD da chamada ‘linha clara’, sobretudo através das aventuras de Alix, o jovem gaulês romanizado que surgiu pela primeira vez nas páginas da revista Tintim a 16 de setembro de 1948, faz hoje 70 anos, com o arranque da sua primeira aventura que em 1956 surgiria em livro com o título Alix, o Intrépido.
Jacques Martin nasceu em Estrasburgo em 1921, estudou na Ecole Catholique d’Arts et Metiers na Bélgica e, depois da guerra começou a publicar desenhos seus logo em 1946. Começou a trabalhar na revista Tintim em 1948 onde tinha como colega, além de Hergé, Edgar P. Jacobs, criador de Blake & Mortimer. Colaborou com Hergé até 1972, publicando em paralelo os seus próprios álbuns.
Alix foi a sua primeira grande criação, ainda nos anos 40. Seguiu-se, em 1952, o aparecimento do jornalista Lefranc. Jehn, nos anos 80, abriu espaço para uma série de aventuras na idade média. Criou ainda séries e personagens para abordar outras épocas, do antigo Egito à Grécia clássica… A última criação foi Loïs, com aventuras projetadas na França do século XVII. Além dos álbuns de aventuras em quadradinhos, Jacques Martin estendeu o seu interesse por diversos períodos da história procurando um evidente rigor nas suas recriações em outros livros nos quais nos permitiu, sobretudo com Alix, visitar grandes cidades e factos de outros tempos. Um problema na visão obrigou-o a deixar o desenho nos anos 90, tendo mantido o trabalho na criação de histórias e diálogos para as suas personagens.
Até 1985 Jacques Martin criou um corpo inicial de álbuns que deram vida a Alix, desenvolvendo não apenas a personalidade do jovem gaulês, feito escravo e depois adotado por um patrício romano, mas com ele viajando a vários destinos possíveis no quadro do mundo conhecido de então (no ponto de vista ocidental, claro). Após um primeiro hiato Alix regressaria aos livros em 1996 numa segunda vida na qual a presença de Jacques Martin foi sendo progressivamente mais discreta, conduzindo mesmo assim a evolução das tramas e acompanhando a feitura dos álbuns.
A morte do seu criador, em 2010, com 88 anos, não o afastou dos livros. E desde então, apenas pela mão de novas equipas de argumentistas e desenhadores, Alix continuou a conhecer novas aventuras em álbum e a viajar a novos destinos nessa outra série paralela. A maior das novidades póstumas da vida desta figura criada há 70 anos chegou em 2012 com o nascimento de uma outra série de aventuras que, sob a designação Alix Senator, nos transportam para uma época posterior à das narrativas da série “clássica”, com o protagonista agora um adulto, na casa dos 50 anos, habitualmente acompanhado pelo seu filho Titus e por Kephren, filho de Enak, o seu velho parceiro egípcio entretanto dado como desaparecido. Esta nova série não impediu a continuação da outra. Coexistindo, ambas as séries dão-nos, agora, a um ritmo regular, histórias protagonizadas pelo mesmo herói, mas em épocas distantes. A “clássica” mantendo-se nos tempos do fim da República. A mais recente avançando vinte e poucos anos, rumo à alvorada do período imperial, sob o poder de Augusto.
A assinalar os 70 anos de Alix é editado na próxima semana o nº 37 da série “clássica” Veni, Vidi Vici. Em novembro será a vez do nº 8 da série Alex Senator. Antes, em outubro, surgirá uma nova séries com o título Les Origines d’Alix.
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