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A cantiga ainda pode ser uma arma

Texto: NUNO GALOPIM

O guitarrista Marc Ribot convidou vozes como as de Tom Waits, Meshell Ndegeocello ou Syd Straw para em conjunto fazer de “Songs Of Resistance 1942 – 2018” um coro de protesto com um alvo bem nítido.

Tempos conturbados geram momentos de reação. E o álbum que o guitarrista Marc Ribot acaba de editar representa uma das mais vivas coleções de vozes e palavras de protesto que, mesmo abarcando memórias com algumas décadas de história, não deixam de falar para o presente que estamos a viver. Até porque não faltam aqui ocasiões em que há palavras antigas que ganham sentidos atuais e outras, já do nosso tempo, que não deixam dúvidas sobre aquilo de que aqui se fala.

Songs Of Resistance 1942 – 2018 é desde logo desafiante pelo conceito que o sustenta. Uma recolha de canções de protesto que marcaram episódios na história da sociedade desde os tempos do pós-guerra junta-se a novas trovas para que não nos esqueçamos de que a cantiga pode ser uma arma. As trovas chegam de tempos e de histórias a causas distintas. Há aqui canções que deram voz às lutas pelos direitos civis ou que combateram pela paz no Vietname. E há até melodias mais antigas, como o célebre Bella Ciao, que começou por ser cantado em ambiente rural na Itália do século XIX e que, depois, se fez hino de resistência ao regime de Mussolini e à ocupação alemã nos tempos da II Guerra Mundial. Mas é da figura de Donald Trump e das suas políticas que se canta, sobretudo, aqui. E por várias vezes de forma bem explícita.

Musicalmente Marc Ribot constrói um disco que, sob uma base folk (aberta a várias geografias), abre portas a contaminações que vão do jazz ao rock. As vozes convidadas passam por nomes como os de Tom Waits, Steve Earle, Meshell Ndegeocello, Justin Vivian Bond, Fay Victor, Sam Amidon, Ohene Cornelius, Tift Merritt, Domenica Fossati ou Syd Straw. Uma das delas, a que acompanha o rapper Ohene Cornelius na visceral e poderosa Rata de Dos Patas é a de uma emigrante que optou por se manter anónima, temendo represálias. Todas acrescentam não apenas riqueza tímbrica e diversidade ao corpo de canções, como transformam um protesto num coro que mostra que este protesto não é coisa de uma só voz. É de muitos.



“Songs Of Resistance 1942 – 2018”, de Marc Ribot, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Anti/Epitaph.★★★★


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