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Mi nombre es Marilyn!

Texto: GONÇALO COTA

“Marilyn”, que integrou a secção Panorama da edição deste ano da Berlinale, teve estreia nacional no Queer Lisboa 22 numa sessão que contou com a presença do realizador, o argentino Martín Rodríguez Redondo.

Como se todos os seus movimentos contassem cada pormenor da história do seu corpo, Marilyn irrompe de vestido dourado, brilhante, pelas celebrações do carnaval da aldeia. Mais próxima de si, o verdadeiro eu, quando nas pistas dança e se celebra junto de outras mulheres, sob um clarão da lua que parece encandear todos os sentidos. O epicentro da vida, mesmo ali, numa qualquer zona rural argentina. Contemplamos aqui a história (verídica, pois o filme é baseado em factos reais) de Marilyn: o verdadeiro eu de Marcos (interpretado pelo estreante Walter Rodríguez), rapaz de dezoito anos que habita num rancho arrendado com os pais e com o irmão mais velho.

Mergulhamos, em quase todo o filme, nas várias fotografias da vida rural: a ordenha das vacas, a complexidade da lida da casa e do campo, o processo de Marcos se tornar homem. Mas possui-lhe a vontade de corroer todo esse processo, de se tornar outra coisa… vontade essa entorpecida apenas por um contexto social e familiar duro e opressivo.

A morte do pai, nos momentos iniciais do filme, reinventa um desassossego na vida da família e de Marcos. Com a morte do patriarca, é necessário estabelecer novos pontos de partida, traduzindo-se na necessidade de a família sair do rancho. É esta morte que faz espoletar a ação, que é construída através da dialética entre personagens diversificadas e intensas. Olga, uma mãe que toma rapidamente o lugar do pai, como chefe de família amargurada e desolada (especialmente quando encontra os vestidos escondidos) com o despertar da identidade estranha do filho. Carlos, no início da sua fase adulta, caminha longe de compreender quem é o irmão. E Marcos, Marilyn, com desejos de saborear a sua sexualidade e identidade em pleno – num corpo e mente calejados pelos golpes do mundo que o rodeia. E não é uma dor simulada. Até quando consegue Marilyn dançar?

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