Um álbum muito… Pet Shop Boys
Texto: NUNO GALOPIM
O sucessor de Behaviour devolveu o foco da atenção dos Pet Shop Boys de novo para o espaço de relacionamento entre a pop e a música de dança onde decorrera parte significativa da sua criação nos primeiros anos de atividade. Uma série de projetos recentes, do álbum Introspective aos discos de celeboração com Liza Minelli e Dusty Springfield, assim como o próprio Behaviour, tinham transportado os Pet Shop Boys para terrenos mais tranquilos. O desejo em reencontrar o viço e a cor da canção pop, assim como um efeito de ressaca face ao modo como o álbum Behaviour não havia sido recebido com o entusiasmo de discos anteriores (coisa que o tempo veio a transformar) levaram-nos a tomar uma decisão concetual: o caminho era “para cima”… E pop!
Very (com um título que se justifica por ser um disco “muito” à Pet Shop Boys), editado em setembro de 1993, não esquece, todavia, os ambientes mais melancólicos que haviam dominado o álbum de 1990 e reparte o alinhamento entre instantes pop de alma mais efusiva e pequenos momentos de elegante placidez, como os que se escutam em Dreaming of the Queen (que Neil Tennant confessa no booklet da nova reedição ser o seu tema favorito do álbum), To Speak is a Sin ou Liberation, este último tendo sido escolhido como terceiro single.
A alma do disco reside, contudo, nos episódios mais festivos, entre os quais estão Can You Forgive Her? (o single de avanço), Yesterday When I Was Mad ou uma versão de Go West, original dos Village People que, na verdade, começou até por ser um episódio com aparente pouco futuro pela frente. Derek Jarman ia organizar um espetáculo na Haçienda, em Manchester, e convidou os Pet Shop Boys a atuar. Originalmente iam fazer uma versão de The Fool on The Hill dos Beatles, mas Chris Lowe, ao vasculhar entre os seus discos, encontrou esta canção dos Village People que lhe pareceu adequada ao momento. Neil começou por torcer o nariz. Não gostava nada da canção. Mas Chris insistiu: “vais gostar”… E tinha razão, tendo a versão acabado por se transformar no maior sucesso extraído do alinhamento deste disco.
Ao longo do alinhamento Very mostra como uma escrita atenta, observadora e capaz de comentar, pode residir no tutano de uma música muitas vezes confundida como apenas banda sonora de devaneios hedonistas. O disco foi editado num packaging invulgar, numa jewel box em relevo que sublinhou uma vez mais o bom relacionamento do duo com o trabalho de imagem que conheceu igualmente momentos inesquecíveis em telediscos nos quais a opção apontou a vincar a presença nas imagens de lógicas de não realismo, tendo abraçado inclusivamente os terrenos do digital.
Esta nova reedição apresenta, por um lado, o disco em vinil de alta gramagem. Já a versão em CD surge acompanhada pelo disco de extras “Further Listening 1992-1994” no qual se juntam remisturas editadas em máxis (a de Go West mostrando algumas linhas de teclas que acabaram retiradas da versão final), lados B (como Shameless ou Decadence) e colaborações desta etapa. Entre estas colaborações está Absolutley Fabulous, single que nasceu de uma colagem de samples da série de humor com o mesmo nome e que acabou a contar com a colaboração de Jennifer Saunders e Joanna Lumley, tendo sido usado na campanha de 1993 da Comic Relief. Outra das colaborações é a versão dos Pet Shop Boys para Girls and Boys, single que apresentou em 1994 o álbum Parklife dos Blur. Há ainda uma maquete de Falling, composta para Kylie Minogue. Os temas instrumentais do álbum companheiro Very Relentless, editado em 1993, ficam contudo de fora desta reedição.
“Very” dos Pet Shop Boys, está disponível em LP, 2CD e nas plataformas digitais numa reedição da Parlophone.
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