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Uma viagem no tempo, segundo Terrence Malick

Texto: NUNO GALOPIM

Apresentado como um filme-companheiro de “A Árvore da Vida” o magnífico “Voyage of Time” é mais do que um mero retrato documental sobre a história do tempo. É um olhar sobre a história de tudo, com a clara assinatura de Terrence Malick.

A dada altura, a meio caminho da viagem narrativa e emocional que vivemos em A Árvore da Vida, de Terrence Malick, mergulhamos no tempo e no espaço acompanhando um percurso que nos faz recuar ao começo de tudo, acompanhando depois o percurso do universo, e do nosso mundo em particular, numa sequência de alguns minutos que representa uma das mais belas experiências cinematográficas de todos os tempos (há quem ache o contrário e ainda bem, que não há nada pior do que unanimidades ou coisinhas assim-assim). Essa ideia, as muitas imagens que serviram a criação de outros planos do mesmo filme e uma multidão de outras imagens captadas mais adiante mas sob um olhar semelhante, abriram caminho para a criação de um novo filme: Voyage of Time, até aqui sem estreia entre nós (nem aparente perspetiva de que alguma vez semelhante coisa venha a acontecer).

Há quem lhe chame documentário… E de facto a quantidade de olhares sobre o mundo real, arrumados de forma a traçar uma narrativa, estão lá. Mas há em Voyage of Time mais do que um mero documentário no qual Terrence Malick nos dá a sentir a história de tudo. Claramente marcado pelo modo de filmar, montar e pela palavra, imagens e música sugerir uma narrativa que Malick vinha já a ensaiar em filmes anteriores e que em A Árvore da Vida encontrou a meta da sua demanda, A Voyage Of Time é um olhar pessoal e cético sobre o que somos e, sobretudo, para onde parece estarmos a ir.

Uma voz sussurrante (no caso da edição em DVD é a de Cate Blanchett) fala da Terra como “mãe”, num claro jogo de afinidades (temáticas e de tom) para com o que vimos, escutámos e sentimos em A Árvore da Vida. Na sequência inicial cruzam-se planos genéricos (e belos) com olhares – numa textura em vídeo mais imperfeita – com pessoas e lugares que estão longe de habitar paraísos. O mundo real… E é neste jogo de contrastes entre o belo idealizado e a crueza da realidade que entramos numa caminhada que, com afinidades com o que nos mostrou Godrey Reggio em Koyaanisqatsi, progride depois por sugestão de arrumação cronológica que nos transporta pelo tempo até chegar a uma terra em formação, aos oceanos a borbulhar de vida, ao emergir da vida fora de água, mais tarde os dinossáurios e os primeiros homens… E aqui, entre primeiras comunidades já detentoras de um trunfo sobre outros seres – o fogo – temos uma sequência de situações que envolvem atores, de uma forma que lembra o que Annaud fez em A Guerra do Fogo, porém com a evidente assinatura de Mallick. Sim, dirão que a reconstituição pode ser uma ferramenta ao serviço do documentarismo… Mas há uma marca autoral ali. Poética. Não se trata de uma recriação de uma situação… Mallick pensou aqueles corpos, os gestos, as intenções. Atores cumprindo uma visão. A de um olhar que nos conta a viagem do tempo. Mas que o encara com questões, assombrações… E aparentemente sem a mesma fé que animou as almas de A Árvore da Vida

“Voyage of Time” está disponível em Blu-ray em alguns territórios europeus (França e Alemanha).

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