Philip Glass: sinfonia com sabor a episódio de síntese
Texto: NUNO GALOPIM
Há uns anos, quando o confrontei com a eventual “maldição” da Sinfonia nº 9 – que surgiu do facto de alguns grandes sinfonistas como Beethoven, Bruckner ou Mahler (que mesmo assim deixou um andamento para uma “décima” que não concluiu) não terem ultrapassado nunca esse patamar – Philip Glass riu e respondeu que faria, ao mesmo tempo, uma Sinfonia nº 10… De facto concluiu-a poucas semanas depois da “nona” e entretanto juntou já uma “Sinfonia nº 11” a uma obra que, se inicialmente foi sobretudo caracterizada pelo trabalho exploratório da repetição, juntando depois uma importante presença da música para o palco (sobretudo o da ópera, mas também o da dança) e para o cinema, tem a música orquestral, e em particular a sinfonia, como um espaço de presença com significativo protagonismo desde os anos 90.
Estreada em janeiro de 2017, por ocasião do 80º aniversário do compositor, a “Sinfonia Nº 11” representa, como na altura ele mesmo recordou ao New York Times, um episódio de reencontro mais evidente com o seu antigo interesse pela música repetitiva, reencontrando também, no terceiro andamento, um gosto juvenil pela presença mais evidente da percussão. Fá-lo num quadro orquestral com claras afinidades com muita da música para orquestra que nos tem dado a escutar nos últimos anos, com as habituais notas de “autor” bem nítidas, embora sem o mesmo sentido de desafio que projetou em sinfonias “recentes” como a “oitava” (sobre um texto de Ginsberg) ou “nona”, sugerindo mais uma ideia de “conforto” e familiaridade. Os aficionados vão gostar. Os mais céticos dirão mais do mesmo… Pois é o Rothko e o Pollock estavam tramados se os tratassem com semelhante ligeireza…
Estamos, naturalmente, longe das visões mais exploratórias que Glass lançou sobre o formato da Sinfonia quando tomou como matéria prima de inspiração os álbuns Low e Heroes de Bowie (respetivamente nas sinfonias números um e quatro) ou quando ensaiou uma ideia de grande fôlego na ecuménica “Sinfonia Nº 5”, que até aqui se mantém como a mais interessante de todas as onze já apresentadas. Mas de todas as que compôs desde então talvez seja a que mais bem cria uma síntese sobre um modo de abordar a música para orquestra a que tem dedicado parte importante do seu trabalho e pelo qual tem aprofundado, estreia após estreia, uma relação com o maestro Dennis Russel Davis, que uma vez mais aqui garante a primeira gravação da obra, à frente da Bruckner Orchester Linz.
“Symphony 11”, de Philip Glass, pela Bruckner Orchester Linz, dirigida por Dennis Russel Davies, está para já apenas disponível nas plataformas digitais. Uma edição em CD, pela Orange Mountain Music, está prevista para o dia 9 de novembro.
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