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Canções pop para tempos sombrios

Texto: NUNO GALOPIM

Músico, produtor e DJ, o texano Matthew Dear regressa aos discos em nome próprio após um hiato de seis anos com um magnífico novo álbum que assinala a sua chegada a um novo patamar no qual a canção surge como forma a explorar, mas sob climas densos e tensos que traduzem ecos dos tempos que vivemos.

Produtor, DJ e também editor discográfico, Matthew Dear tem uma obra com a idade do século e que chega em 2018 aos 18 anos de discos (ora seus, ora marcando a presença a remisturar temas de nomes como, por exemplo, os Hot Chip, Postal Service, Chemical Brothers ou Charlotte Gainsbourg). Em 2007 editou o magnífico “Asa Breed”, disco que traduzia sinais de um desvio das suas atenções dos terrenos mais próximos do techo (e periferias) para um espaço mais elaborado e desafiante onde a canção surgia como nova meta (o que não o impedia de, ocasionalmente, desenhar composições instrumentais). Logo ali convocvava ecos de escolas pop dos anos 80 que se revelavam como estimulante material de consulta a uma música que, todavia, apostava na sua recontextualização em cenários do presente e não em simples soluções de nostalgia. Contudo o achado maior nesse álbum marcante na obra de Matthew Dear era a forma como o músico soube adaptar as arquiteturas estruturais da sua música às exigências da canção. Foi o grito de “eureka” que lhe permitiu encontrar um caminho que, depois de “Asa Breed”, continuou a explorar nos seguintes, e igualmente cativantes, “Black City” (2010) e “Beams” (2012).

Depois fez-se silêncio ocasionalmente interrompido por alguns pontuais projetos de colaboração e pela edição, em 2017, de um ‘set’ na série DK Kicks. 2017 foi também o ano em que sinais de que um regresso aos discos em nome próprio estava iminente, tendo então surgido um primeiro apertivo do novo “Bunny” na forma de “Bad Ones”, um single editado em parceria com a dupla indie Tegan & Sara.

A canção reafirmava por um lado o talento pop que habitava já a música de Matthew Dear desde o momento de viragem definido por “Asa Breed”. Porém, agora, o alinhamento de “Bunny” deixa crer que à luminosidade aparentemente ligeira de “Bad Ones” se junta um lote de cançõers igualmente pop e melodistas na forma, mas dominadas por ambientes sombrios. Sinais talvez do confronto entre um hiato no qual Matthew Dear se dedicou à família e ao confronto com os tempos nada luminosos que vivemos, “Bunny” é um disco de canções tensas que convocam tanto heranças de escolas new wave como parece escutar ecos dos ambientes dos primeiros tempos de uns Nine Inch Nails, num quadro que, apesar das colaborações (e a dupla Tegan & Sara surge noutro momento), faz da voz “à crooner” de Matthew Dear o herói calmo destas trovas para dias sombrios. “Bunny” é o seu melhor disco desde “Asa Breed” e representa, depois dos episódios de transição sugeridos aqui e ali desde então, a chegada da sua música a um novo território. E convenhamos que ali chega muito bem.

“Bunny”, de Matthew Dear, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Ghostly ★★★★

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