31. Conjunto Académico João Paulo (1966)
Texto: NUNO GALOPIM
Com uma história iniciada ainda em finais dos aos 50, mas com registo em disco apenas fixado depois de 1960, o pop/rock português teve entre os seus pioneiros uma série de artistas e bandas que iam nascendo sobre o entusiasmo das novas formas e sons que iam chegando dos eixos definidos entre o Reino Unido e os EUA (que então desenhavam uma certa modernidade em terreno pop e rock). Nomes como Ricky Nelson e os Shadows são por isso referências primordiais numa primeira etapa, representando a chegada dos discos dos Beatles o início de uma segunda importante etapa no plano das fontes de inspiração. Há, contudo, entre alguns dos pioneiros do pop/rock português uma presença em simultâneo de referências europeias, que vão desde os planos das mais diversas expressões continentais do fenómeno ié ié aos domínios da canção ligeira, num espaço que, sobretudo depois de 1966, teve o Festival da Canção e o Festival da Eurovisão igualmente na berlinda. Nascido na Madeira em 1961, entre amigos e colegas de liceu, o Conjunto Académico João Paulo conheceu uma primeira oportunidade de atuar em Lisboa depois de vencer um concurso local em 1964. O seu modo de cruzar universos entre as suas canções cativou atenções e abriu caminho para da banda fazer um dos maiores casos de sucesso do pop/rock português dos anos 60, sendo um dos que mais discos então gravou. O formato mais favorecido, como era comum aos demais géneros da música portuguesa de então, era o EP. Mas em 1966 coube ao Conjunto Académico João Paulo editar o primeiro álbum da história pop/rock portuguesa.
Apesar do título “Conjunto Académico João Paulo No Teatro Monumental” (título da edição em estéreo, já que em mono o LP se apresentou como “Conjunto Académico João Paulo Ao Vivo No Teatro Monumental”) o LP não foi gravado nesse teatro que tinha já um lugar na história por ter acolhido o mítico concurso ié ié entre 1965 e 66, nem corresponde exatamente à ideia habitual do álbum “live”, captado durante um concerto. Como explica o baixista Ângelo Moura no livro “Biografia do Ié Ié”, de Luís Pinheiro de Almeida, a ideia de um registo neste formato nascera do facto de haver, em meados dos anos 60, uma série de artistas franceses que estavam a apresentar discos gravados em locais como o Olympia. Receando a falta de equipamento capaz de garantir uma boa captação do som e também eventuais “fífias” na interpretação, a gravação acabou por ter lugar nos estúdios de Paço de Arcos, contando, contudo, com a presença de uma pequena plateia recrutada entre o clube de fãs, cabendo então à arte do técnico de som Hugo Ribeiro a junção das reações e aplausos ao som captado ali mesmo, no estúdio.
O alinhamento inclui 12 canções, a maioria já entretanto lançada em EP, juntando de novo três temas inéditos, entre os quais “Jezebel”, celebrizada por Frankie Lane. O disco inclui dois dos maiores clássicos do pop/rock português dos anos 60 – “Milena” e “Hully Gully do Montanhês” e algumas versões de sucessos franceses e italianos daquele tempo como “Capri C’est Fini” (de Hervé Villard), “La Nuit” (de Adamo), “No Son Degno de Te” (de Gianni Morandi) ou “Stasera Pago Io” (de Domenico Modugno).
“Conjunto Académico João Paulo No Teatro Monumental”, apesar de representar o primeiro álbum do pop/rock português, não corresponde todavia ao primeiro disco deste mesmo universo a ser editado no formato de LP. Coube curiosamente ao mesmo grupo, um ano antes, a responsabilidade de inaugurar o formato com a compilação “Conjunto de João Paulo em Lourenço Marques” (que em 1966 conheceria lançamento na África do Sul como “Conjunto Académico João Paulo em Moçambique”). O formato de LP seria usado apenas por mais duas bandas portuguesas na década de 60, em ambos os casos no ano de 1969, com “Epopeia” da Filarmónica Fraude e “A Peça” dos Pop Five Music Incorporated.
O disco foi editado numa altura em que o serviço militar obrigatório obrigou o grupo a refrear a sua atividade, tendo mesmo assim conseguido editar quatro EP em 1967 e um em 1968 antes de retomar uma atividade mais regular, ora gravando com Vicky ora como Sérgio Borges e o Conjunto João Paulo, editando os seus últimos discos em 1972.
“Conjunto Académico João Paulo No Teatro Monumental” teve edição em LP em estéreo em 1966 pela Columbia. Na mesma altura surgiu a versão em mono com o título “Conjunto Académico João Paulo Ao Vivo No Teatro Monumental”. O disco nunca teve até hoje edição em CD nem se encontra nas plataformas digitais de streaming.
Da discografia do Conjunto Académico João Paulo vale a pena descobrir discos como:
“Conjunto João Paulo em Lourenço Marques” (1965)
“Sérgio Borges e o Conjunto João Paulo” (1970)
“Eu Tão Só – Integral Volume 1 (1964-1968)” (2008)
Se gostou, experimente ouvir:
Sheiks
Quinteto Académico
Os Ekos
Gostaria saber se ao alguma gravação ao vivo e se há mais cds e.t.c,Vitor Silva
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Bom dia. Gravações de facto “ao vivo” deste grupo não há. Há uma edição em CD com a obra do Conjunto Académico João Paulo.
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