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E ficamos a suspirar por algo melhor

Texto: NUNO GALOPIM

Depois de “Chama-me Pelo Teu Nome” o realizador italiano Luca Guadagnino resolveu fazer um ‘remake’ de um clássico de terror. Nada contra a ideia. Pena apenas que ali tenha feito nascer um dos seus filmes menos cativantes e que não tenha dado melhores imagens e trama à música de Thom Yorke.

Foi talvez com alguma surpresa que muitos terão acolhido a notícia que dava conta de que, na filmografia de Luca Guadagnino, o sucessor de títulos como “Eu Sou O Amor”, “A Bigger Splash” ou “Chama-me Pelo Teu Nome” seria um remake de um clássico do cinema de terror italiano. E porque não? Parecia um bom desafio…

Filme de culto, originalmente estreado em 1977, “Suspiria” acabaria por ficar reconhecido como título de referência na obra de Dario Argento, sobretudo pelo modo como trabalhava a imagem (das formas às cores) e usava uma banda sonora assinada pelos Goblin, uma banda de rock progressivo italiana. O regresso a “Suspiria” começou por se fazer saber com a revelação de que Tilda Swinton – figura fulcral em episódios anteriores da filmografia de Guadagnino, sobretudo em “Eu Sou o Amor” – estaria na linha da frente do elenco e que, tal como sucedera no filme original, a banda sonora estava entre as preocupações primordiais do realizador, que chamava Thom Yorke para a sua primeira experiência de grande fôlego no cinema… Um primeiro trailer prometia… Mas a verdade é que o embate final com a obra mostra que tanto há neste novo “Suspiria” instantes de boa inspiração e primor técnico como, em outros momentos, verdadeiros e inesperados tropeções.

Luca Guadagnino mantém como ponto de partida uma história que cruza o quotidiano de uma companhia de dança com o plano sobrenatural de ecos de uma tríade demoníaca… E junta à sua versão um contexto histórico e político que, se por um lado situa a ação no mesmo período de finais dos anos 70 em que nos chegou o original de Dario Argento, por outro encontra nesse contexto uma série de ressonâncias que falam claramente ao presente que viemos. Ao colocar a ação numa Berlim dividida por um muro e explorar a dor de uma personagem maios idosa que vive sob ecos de memórias traumáticas do regime nazi o realizador encontra frestas de realidade que contrastam com a alma assombrada da trama central…

Terá sido, contudo, esta a melhor narrativa para refletir sobre os muros e o redespertar de ideias extremadas dos nossos tempos? Talvez não… E, apesar do fulgor das interpretações das protagonistas Dakota Johnson e Tilda Swinton, é no mergulho pelas trevas que assegura a ligação à história principal – que procura descobrir o paradeiro de bailarinas que desaparecem e o real papel de figuras de poder na companhia de dança – que sentimos que Guadagnino acaba fora de pé. A cor e as linhas que vincavam a visão plástica de Dario Argento dão lugar a uma fotografia muitas vezes pardacenta antes da queda a pique em banalidades do género cinematográfico.

A música – tanto a instrumental como as canções – é de primeira água. Mas dá pena que Luca Guadagnino não a tenha usado num filme mais… feliz.

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