O que escutar no Super Bock em Stock? – Parte 1
Texto: GONÇALO COTA
Após sete anos como Vodafone Mexefest, aquele que é um dos principais festivais de música a ocorrer durante o inverno volta às suas origens: o Super Bock em Stock realiza-se já este fim-de-semana. Recuperando o carácter exploratório que lhe é característico, o de ser uma plataforma de descoberta para projetos que se enquadram maioritariamente nos terrenos da indie e da música alternativa, as diferentes salas da Avenida contarão com dezenas de nomes. Para facilitar o desenho do trajeto, e como não é possível ver tudo, apresentamos durante algumas sugestões. Escolhas pessoais e subjetivas, claro!
A primeira sobe a palco logo na primeira noite. Pelas 22 horas, na Sala da EDP (renomeada a Casa do Alentejo, assim, para o festival), o sul-africano Nakhane vem apresentar-nos o seu segundo longa-duração. Através de um mapa de influências que conta com os nomes de Anohni e Marvin Gaye, ou pela força das ideias e das palavras de James Baldwin e de Toni Morrisson, “You Will Not Die” parte de um conjunto de vivências autorais. Particularmente daquelas que estabeleceu durante o seu crescimento: é numa relação sentimentalmente rica, entre sua identidade sexual e o seu lugar origem, uma comunidade profundamente religiosa de Port Elizabeth, que “You Will Not Die” é construído. Mas também de um conjunto elegante, cuidado e diversificado de canções. Produzido por Ben Christophers (dos Bat for Lashes), aqui podemos escutar relações mais estreitas com a pop eletrónica (Clairvoyant) ou, por outro lado, harmonias imaculadas que abraçam a voz teatral de Nahkane (Violent Measures). Produzindo um efeito introspetivo e catártico, de início, será interessante compreender como estes sentimentos se traduzem em palco…
Natalie Prass chega-nos imediatamente a seguir. “The Future and The Past”, editado no início do ano, recupera as sonoridades funk e soul com que a americana cresceu – escutamos a influência de, por exemplo, Dusty Springfield-, dando-lhe um toque de identidade e modernidade. Apesar de este não ser um conjunto de canções de protesto, a eleição de Donald Trump alterou o rumo prevista para “The Future and the Past”, redimensionando-o para outras temáticas: é o caso do hino feminista Sisters, que utiliza repetidamente a expressão “nasty woman” dirigida a Hillary Clinton durante a campanha presidencial. Com a exclusão dos adornos musicais que embelezavam o seu primeiro LP, homónimo, a voz doce e cândida de Natalie Prass projeta-se de forma diferente durante as doze canções: enquanto “Short Court Style” é uma fresca canção pop, “Never Too Late” segue modelos mais convencionais da música jazz ou “Far From You”, uma bonita balada acompanhada por um piano. Para escutar na sexta-feira, Cinema São Jorge, pelas 23:45.
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