Um regresso de Blake & Mortimer aos despojos do Espadão
Texto: NUNO GALOPIM
Com um volume de narrativas posteriores ao desaparecimento de Edgar P. Jacobs já superior ao número de histórias assinadas pelo seu próprio criador, as aventuras de Blake & Mortimer têm vindo a explorar as possibilidades que o quadro cronológico da mitologia das personagens vai colocando perante os novos autores, sendo já várias as ocasiões em que são retomadas personagens e ecos de histórias já conhecidas.
É o que acontece uma vez mais em no volume um do díptico “O Vale dos Imortais” – que tem como título “Ameaça Sobre Hong Kong” – que a ASA acaba de lançar entre nós em simultâneo com a edição internacional. O texto é de Yves Sente, o argumentista que mais vezes escreveu para as aventuras de Blake & Mortimer depois de Jacobs. No desenho estreia-se nesta série a dupla Teun Berserik e Peter Van Dongen. E, apesar de não imaginarmos ainda o desfecho desta aventura, podemos afirmar que, depois de “O Caso Francis Blake” (de Jean Van Hamme e Ted Benoit) e de “A Conspiração Voromov” (de Yves Sente e André Juillard) este arranque de “O Vale dos Imortais” parece juntar aos álbuns pós-Jacobs um dos seus melhores momentos.
A ação está localizada em 1947, cronologicamente sucedendo-se assim aos acontecimentos (históricos) de “O Segredo do Espadão”, a dada altura sendo mesmo recriadas (com novos diálogos e olhares) algumas das sequências finais dessa aventura de referência. Yves Sente cria um contexto que cruza ecos da história real da China na primeira metade do século XX com a mitologia das aventuras de Blake & Mortimer para nos colocar em busca de duas peças de extremo valor histórico que, retiradas das coleções imperiais, acabaram separadas e sob posses distintas quando se tentava levá-las para Taiwan. É, contudo, a cidade de Hong Kong que surge como o epicentro de uma trama que invariavelmente acaba por envolver os protagonistas e que, visitando os momentos finais do regime do imperador Basam Damdu, acompanha a fuga do resiliente coronel Olrik… Não será surpresa imaginar que os caminhos dos protagonistas e do vilão voltarão a convergir mais adiante na ação…
Nada como esperar pelo volume 2 para saber o que se passa e tirar definitivas conclusões sobre esta 19ª aventura de Blake & Mortimer. Para já não só a escrita é mais empolgante do que muitos dos álbuns recentes como, tal como o desenho, está dentro da “linha” exigida pela série… E pela capa passa uma homenagem a “O Lótus Azul”, de Hergé. Agora é esperar pelo desfecho.
“O Vale dos Imortais – Tomo 1”, de Yves Sente, Teun Berserik e Peter Van Dongen. Edição de 56 páginas em capa dura pela ASA. Tradução de Paula Caetano.
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