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Marte é um lugar mais empolgante na segunda temporada de “Mars”

Texto: NUNO GALOPIM

A segunda temporada da série produzida pela National Geographic acrescenta um elemento chave à trama e à discussão que a acompanha: como será o nosso planeta vizinho quando, depois da ciência, ali chegar o mundo das empresas?

Podemos tomar como ponto de partida uma ideia que Carl Sagan apresentou num episódio da série Cosmos ao qual chamou Blues For a Red Planet: a história de Marte conta-se pela ciência; mas a ficção tem também ali um papel a desempenhar. Logo aí Sagan lembrou um vaivém entre factos e ficções, que passaram pelas conjeturas de Percival Lowell (que defendeu a visão de um planeta moribundo habitado por uma civilização que tentava contrariar a escassez de água construindo uma rede de canais de irrigação) e pelas primeiras manifestações diretas dessas ideias na ficção (científica) entre A Guerra dos Mundos de H.G. Wells ou as aventuras de John Carter, criadas por Edgar Rice Burroughs, o autor que (no mesmo ano de 1912), nos dava também a conhecer a figura de Tarzan.

Em 2016, numa altura em que Marte habita mais do que nunca o imaginário do cinema e há planos e datas a serem sujeitos a equações que querem prever uma missão tripulada daqui a umas duas décadas, a National Geographic partiu dessa dualidade sugerida por Sagan e transformou-a numa série onde não só se cruza a ciência e a ficção, mas também o registo documental com uma trama que evolui com atores, cenários e toda uma narrativa que nos leva… até Marte.

“Mars”, que envolve nomes experientes de Hollywood como Ron Howard ou Brian Grazer na equipa de produção, é uma criação do National Geograpghic Channel que parte da adaptação do livro “How To Live On Mars?”, de Stephen Petranek. para nos colocar, ora num plano de ficção no qual acompanhamos uma primeira missão tripulada ao planeta vermelho em 2033, cuja ação evolui em paralelo com “regressos” ao nosso tempo presente no qual uma série de figuras ligadas à exploração espacial, engenharia, à divulgação científica ou a projetos centrados na possibilidade de uma colonização do quarto planeta do Sistema Solar, vão comentando as hipóteses que temos em jogo no presente e as que o tempo em breve colocará pela nossa frente.

É neste plano que entravam ali em cena figuras como as de Neil deGrasse Tyson (que há poucos anos assinou uma sequela do “clássico” Cosmos de Sagan), os mais autores Robert Zubrin e Stephen Petranek, autores de importante bibilografia sobre a conquista marciana, ou escritores como Andy Weir, o autor de O Marciano, que Ridley Scott adaptou ao cinema em 2015. O mais presente dos rostos era o de Elon Musk, cuja empresa Space X é parte interessada na hipótese de levar o homem a Marte, facto que desenha uma aura algo turva sobre uma série que, por vezes, parece confundir-se com um filme de propaganda sobre a companhia. Porque, convém notar, há mais gente a sonhar e a projetar um objetivo semelhante…

Passaram quase dois anos e uma segunda temporada entra agora em cena, estando os episódios a ser apresentados nas noites de domingo no National Geographic Channel. Se na primeira temporada se sentia alguma cautela na dotação de um orçamento capaz de competir com as representações da vida em Marte do filme de Ridley Scott, o sucesso desses episódios permitiram à série crescer em ambição no plano visual. Narrativamente a segunda temporada parece mais estimulante também já que, com a ação projetada no ano 2046 (ou seja, a colónia inicial já se instalou e prosperou), a trama assiste à chegada de um segundo grupo que, ao invés do primeiro, não provém de agências espaciais mas de uma empresa privada (com o sugestivo nome Lukrum). E do confronto entre quem ali chegou pela ciência e quem pode trazer novos objetivos e éticas a Marte nasce uma tensão que mostra, tal como sucedeu na brilhante trilogia marciana de Kim Stanley Robinsion (uma das melhores obras de literatura sobre o planeta vermelho mas até hoje sem tradução entre nós), com, mesmo estando num mundo novo, os seres humanos carregam para todo o lado as suas contradições… Curiosamente Kim Stanley Robinson é um dos rostos que vemos nas sequências documentais desta segunda temporada.

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