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18 canções para recordar grandes momentos de 2018

Chegada a reta final de cada ano entra em cena aquela febre das listas. Quem não gostar de listas tem bom remédio… Ou passa ao post seguinte. Ou faz uma lista das razões pelas quais não gosta de listas. (sorriso malandro aqui)…

Para quem gosta de listas esta é a primeira que vamos propor este ano aqui por estes lados. Um percurso por 18 canções que nos ajudam a lembrar 18 momentos que fizeram a história musical deste ano.

Não se trata do ‘best of’ pessoal. Esse chegará mais adiante. Mas um conjunto de episódios que fazem parte da história do ano que está quase a terminar…

“Star”, de Jain

A jovem francesa Jain confirmou, ao segundo álbum, que é autora de uma música pop capaz de cativar atenções e, ao mesmo tempo, expressar marcas de identidade bem peculiares. Canções com sabor a dias quentes chegaram no fim do verão… “Star”, que foi um dos singles de antecipação, vinca um tom festivo que pisca o olho a uma assimilação garrida de ecos do techno e, vocalmente, soma pistas tanto entre a pop como num modo depurado de aceitar heranças do rap, piscando ainda o olho a memórias da cultura dos videojogos.

“Di Mi Nombre”, de Rosalía

Pode o flamenco ser ponto de partida para um dos melhores discos de canções pop que vamos ouvir este ano? Pode sim… E a resposta chega com “El Mal Querer”, segundo álbum de Rosalía pelo qual passam sinais de um discurso de identidade que traduz o que é viver na aurora do século XXI. É um disco intenso, capaz de convocar toda a carga emotiva que habita o flamenco para a projetar num espaço que, sem apagar essas marcas de origem, as projeta entre sonoridades e formas que estão na linha da frente da música do nosso tempo. Este foi um dos singles.

“Alvoroço”, de JP Simões

O processo de remodelação do Festival da Canção teve resultados imediatos logo no ano 2017 com consequência mais evidente na vitória em Kiev da canção “Amar Pelos Dois” de Luísa Sobral, na voz do seu irmão, Salvador Sobral. Em 2018 o Festival da Canção conheceu um número ainda maior de participações chamando, tal como no ano anterior, nomes de diversas gerações e espaços da música popular portuguesa. E foi entre as 26 canções concorrentes que surgiu “Alvoroço”, canção de JP Simões que ele mesmo interpretou.

“Ter Peito e Espaço” (Branko Remix feat. Plutonio), Sara Tavares

Os caminhos que a música que se faz entre nós estão a tomar mostram sinais de abertura cada vez mais ágeis ao desafio de novas linguagens e, ao mesmo tempo, a um diálogo com espaços diversos do mundo lusófono. A ideia da colaboração, da partilha, vinca mais ainda estes cruzamentos de caminhos. E nas encruzilhadas surgem momentos maiores como esta nova leitura, por Branko, e com a colaboração de Plutónio, para um dos temas do álbum que Sara Tavares tinha lançado em 2017.

“Hvala Ne”, de Lea Sirk

O percurso recente do Festival da Eurovisão tem vindo a assinalar uma cada vez mais notória abertura a várias possibilidades no campo das opções estéticas. E a edição lisboeta foi particularmente rica em diversidade, com propostas que iam do jazz vocal (Georgia) ao metal (Hungria). Apesar da (merecida) vitória de Netta e do encantamento (justificadamente) gerado pela cantora Eleni Foureira, a melhor canção que por ali passou revelava uma propopsta de pop eletrónica bem distante dos códigos ‘mainstream’ em vigor e com o valor acrescentado de se apresentar na sua língua natal. Da Eslovénia, com boas memórias, “Hvala Ne”… Fica a inconfidência que dentro da equipa de produção que trabalhava diretamente comigo era das mais bem cotadas no ‘ranking’…

“Mystery of Love”, Sufjan Stevens

O filme andou em 2017 pelo circuito dos festivais e chegou às salas portuguesas na passagem para 2018. A canção tecnicamente é assim do ano passado. Mas foi em 2018 que se fez escutar mais vezes, tendo inclusivamente gerado uma edição em formato de EP (por ocasião do Record Store Day) que juntava assim num só disco as contribuições de Sufjan Stevens para a banda sonora de “Call Me By Your Name” de Luca Guadagnino. Um dos inéditos compostos e gravados para o filme, “Mistery Of LOve” chegou mesmo a conquistar uma nomeação para a categoria de Melhor Canção Original nos Óscares. Não venceu o prémio, mas foi uma das melhores canções criadas para o cinema nos últimos anos.

“Beat of Your Drum”, David Bowie

Um dos álbuns mais subvalorizados da obra de David Bowie foi este ano integralmente recriado pelos seus colaboradores, das suas entrelinhas brotando canções que os arranjos e as soluções de produção tomados em 1987 então haviam impedido de alcançar uma visão mais cativante que, afinal, ali estava escondida… Seguindo pistas que, ao longo dos anos, David Bowie tinha deixado entre conversas e entrevistas, o álbum “Never Let Me Down”, na sua visão regravada em 2018, mostra sinais de um retomar de linhas deixadas por volta de “Scary Monsters”, antecipando ideias que adivinhavam a eloquência das canções na etapa “veterana” encetada em “hours”. De um alinhamento algo esquecido brotaram, assim, pérolas como este “Beat of Your Drum”, um claro prenuncio da escrita mais “clássica” da etapa tardia da obra de Bowie.

“Little Dark Age”, MGMT

Motivados pelo momento político que o seu país está a atravessar, os norte-americanos MGMT apresentam no quarto álbum, ao qual chamam “Little Dark Age”, o verdadeiro sucessor de “Oracular Spectacular” e “Congratulations”, acentuando mais do que nunca um gosto pela canção pop. “Little Dark Age” é um disco politicamente desencadeado pela vitória de Trump nas presidenciais de 2016 e, por isso, reflete sinais dos tempos que correm. O contexto serviu assim de estímulo a uma resposta que nasceu da (re)ativação do viço de uma banda que, afinal, parece longe de ter esgotado as ideias. A constatação de adversidades no mundo ao nosso redor faz destas coisas… E ainda bem.

“Una Vita in Vacanza”, Lo Stato Sociale
(Universal Music Italia)

Banda de Bolonha (Itália) os Lo Stato Sociale foram uma das grandes surpresas da edição de 2018 do Festival de San Remo, cativando atenções para uma obra pop com gosto por formas musicais indie e consciente do papel da canção como ferramenta de comentário de costumes. Una “Vita in vacanza”, que junta a um refrão efusivamente pop uma construção que explora também o tom meio cantado meio falado do vocalista revelou o inesperado sentido de humor (e magnífica capacidade de autoparódia) que o grupo levou a San Remo. O tom na verdade é transversal a uma obra que frequentemente usa a canção como espaço para comentário aos costumes da sociedade do nosso tempo.

“Close But Not Quite”, Everything Is Recorded ft. Sampha

“Everything Is Recorded by Richard Russell” não é mais do que o primeiro álbum do editor da XL Recordings, revelando um conjunto de temas que ganham forma através da colaboração de um elenco de figuras de relevo no panorama atual, demonstrando clara expressão de um gosto pelos caminhos do r&b mais contemporâneo e seus arredores. Com colaboradores que vão de Sampha às Ibeyi, de Green Gartside (dos Scritti Politti) a Owen Pallet ou Peter Gabriel, o projeto representa, assim, uma espécie de This Mortal Coil (a banda criada pelo patrão da 4AD nos oitentas) talhados ao gosto de Richard Russell e afinado a demandas (temáticas e musicais) que fazem sentido nos tempos que correm.

“Maria do Mar”, de Luísa Sobral

Luísa Sobral tinha já uma sólida obra em disco quando, em 2017, uma canção de sua autoria acabou por ir bem mais longe do que o originalmente imaginado. Era, como chegou a relatar o irmão, Salvador Sobral, “uma canção bonita mas que não ia a lado nenhum”, citando aí palavras do pai de ambos. “Amar Pelos Dois” viveu a história que todos conhecemos. Mas a vida continua. E no caso de Luísa, além de canções para outras vozes, o mais importante novo episódio profissional chegou com a edição de “Rosa”, aquele que é o seu melhor disco até à data. O álbum surgiu já no último trimestre do ano, mas em março, na final do FC, em Guimarães, uma nova canção começou a levantar o véu do que mais tarde surgiria em disco… Ali se ouviu então a “Maria do Mar”.

“Soul Syncable”, de Sevdaliza

Cantora holandesa de origem iraniana, Sevdaliza apresentou no novo EP “The Calling” uma visão ainda mais apurada de uma abordagem à canção já ensaiada no álbum “Ison” de 2017, que a coloca entre as mais entusiasmantes estetas da canção do presente. Uma vez mais fica clara a importância da demanda pelo som (das eletrónicas à clareza das cordas), afinal aqui tão determinante na criação da canção quanto a própria composição e performance vocal.

“Make Me Feel”, de Janelle Monáe

Depois de experiências recentes no cinema e televisão e de colaborações com nomes como os Duran Duran ou Grimes, Janelle Monáe apresentou em “Dirty Computer” um novo ciclo de canções nas quais vincou claramente marcas de identidade e do tempo em que vivemos. Não creditado no álbum está ainda Prince, de quem se diz que estava a colaborar com este projeto por alturas da sua morte, escutando-se a sua presença em alguns instantes, e sendo clara uma homenagem a si em “Make Me Feel”, uma das canções que mais bem acolhe heranças da fase pop minimalista que o pequeno grande músico tão bem desenvolveu na segunda metade dos anos 80.

“Nova Lisboa”, de Dino d’Santiago

Às vezes surgem discos que traduzem, como poucos, o que somos culturalmente. No tempo preciso, com o som certo, com as referências devidamente arrumadas. E há muito que urgia o emergir de um álbum que conseguisse traduzir a identidade da Lisboa do nosso tempo. Que não é só um lugar geográfico e uma história de heranças, mas sobretudo uma soma de vivências que traduzem aquilo que aqui acontece e que espelham também as relações com outros lugares dos lisboetas. Se esse álbum é o “Mundo Nôbo” de Dino d’Santiago (que habita já a galeria dos melhores discos aqui nascidos neste século), então uma canção que resume esta visão pode ser esta “Nova Lisboa”, que nasce de uma colaboração com Branko. Este é contudo apenas um aperitivo… Porque há mais mundos desta “nova Lisboa” a descobrir entre aquelas grandes canções.

“Come Along”, de Cosmo Sheldrake

Apesar das marcas de identidade que o moldam (e são bem vincadas e únicas), há na música de Cosmo Sheldrake alguma familiaridade com o sentido de demanda de novos caminhos para a canção popular como os que Owen Pallett assinou, por exemplo, no magnífico He Poos Clouds (editado ainda como Final Fantasy) ou a compositora Anna Meredith no mais recente “Varmints”. Com o título “The Much Much How How and I”, o álbum caminha entre um universo de surpresas e desejo de descobertas que lembra o tom desafiante dos primeiros discos de Owen Pallett. Este é um nome a anotar entre os novos estetas da canção popular que gosta de viver longe das tendências do momento.

“Grão da Mesma Mó”, de Sérgio Godinho

De frutuosos jogos de colaboração entre músicos com quem tinha já parcerias vividas e outros que agora chegam ao seu universo criativo, Sérgio Godinho apresenta em “Nação Valente” o seu melhor álbum em mais de 20 anos. Nos temas e ideias é um álbum profundamente enraizado nos mais firmes terrenos da obra de Sérgio Godinho. Coube então à música o papel de sublinhar então os valores do tempo em que nasce, cimentados por uma família de colaborações nas quais encontramos nomes como os de David Fonseca, Hélder Gonçalves, Nuno Rafael, José Mário Branco, Márcia, Filipe Raposo e Pedro da Silva Martins, além do próprio Sérgio Godinho, que escreveu todas as letras. Esta é a canção que abre o alinhamento e tem música de David Fonseca.

“You’re So Cool”, de Jonathan Bree

Frequentemente referido como autor de “música pop de câmara” o neozelandês Jonathan Bree lançou este ano um terceiro álbum que cativou mais algumas atenções para uma obra em construção num terreno que tem como ícones de referência figuras como um Brian Wilson, Van Dyke Parks ou, mais recentemente, Neil Hannon. “Sleepwalking” é uma coleção de deliciosas canções “pop sóbrias com arrajos de cordas”. A tal pop de câmara, num alinhamento que, mesmo dominado pelo tom melancólico que a voz de crooner de Jonathan Bree confere às canções, está longe de ser experiência pesada ou mesmo sombria. “You’re So Cool” foi um dos cartões de visita do álbum.

“Fuego”, de Eleni Foureira

Começou como uma aposta evidentemente forte. Mas só quando a vimos no palco a verdadeira dimensão da performance se materializou e lhe deu outro estatuto. De ascendência albanesa mas carreira entretanto feita na Grécia, Eleni Foureira teve em “Fuego” um dos momentos mais inesquecíveis da edição portuguesa do Festival da Eurovisão. Chegou a ser apontada como a favorita e acabou a votação em segundo lugar dando a Chipre a melhor classificação de sempre no concurso. A canção continuou a fazer o seu percurso depois da final eurovisiva e tornou-se em alguns territórios num dos êxitos do verão deste ano. E entre a equipa que trabalhou no projeto ainda hoje é raro o dia em que não há quem não cante um verso do refrão…

1 Comment on 18 canções para recordar grandes momentos de 2018

  1. Acho que sim, o Alvoroço não correu muito bem ao vivo na meia final, mas é uma excelente música e andei parte do ano a ouvi-la na Playlist da Antena 3. A Jain deu um grande concerto no Alive.

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