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O melhor de 2018, por Daniel Barradas

Toby Driver

Disco do ano:

Toby Driver – “They are the Shield”
O que me pareceu um OVNI à primeira vista (ou audição) afinal já tinha raízes sólidas. O trabalho anterior de Toby Driver, tanto a solo como nas várias bandas em que tem participado, era-me desconhecido. Depois do meu deslumbre com este album fui fazer o meu trabalho de casa e ouvir muito do que estava para trás. Apesar da excelência do seu percurso confirma-se que é de facto aqui que este músico encontra uma voz e identidade sólida e única. É um disco desafiante, na fronteira entre a música erudita, a pop e o jazz, entre o ocidental e o oriental, entre o contemporâneo e o medieval. Com um trabalho notável tanto a nível melódico como de arranjos, não se preocupa com o formato standard da canção e deixa-as respirar e durar o que tiver de ser. Para descobrir e ouvir para sempre.

Canção do ano:

JP Simões – “Alvoroço”
Este foi o OVNI do Festival da Canção pela qualidade da letra, da composição e da orquestração. Absolutamente brilhante. Pouco interessa em que circunstâncias veio ao mundo e como foi tratada. É uma canção que é como o menino Jesus: nasce no estábulo e é crucificada mas encontra os seus seguidores que lhe prestam culto. Para mim é um clássico instantâneo. É uma das melhores canções de sempre da música portuguesa, dentro ou fora da competição em que surgiu. Ponto final.

Descoberta do ano:

Maki Asakawa
Estava eu no sofá a ver a quarta temporada de “Mozart in the Jungle” quando uma canção japonesa me assalta com a sua beleza. Os créditos da série não ajudaram a saber quem era, mas o Shazam, como sempre, sabia a resposta. Era Maki Asakawa, a Nico do Japão. Como vivi eu tanto tempo neste mundo sem a ter ouvido?! Já me estou a ver a ir de propósito a Tóquio para desencantar discos de vinil dos anos 70… Pode não haver nada de novo debaixo do sol, mas ainda há muito de velho para conhecer neste mundo. (Nota: O youtube é o melhor sítio para procurar por ela e a compilação ocidental de 2015 recomenda-se como boa introdução)

Concerto do ano:

Sílvia Perez Cruz com Marco Mezquida – Bærum kulturhus, Noruega
O terceiro (!) concerto de Sílvia Perez Cruz com o virtuoso pianista Marco Mezquida foi num centro cultural nos subúrbios de Oslo. Apesar do grande tamanho e das excelentes condições da sala, apenas algumas dezenas de pessoas compareceram. Mas todas sabiam ao que iam e foram mais que recompensadas. Foi um dos concertos da minha vida (e acreditem que eu vejo muitos) pelo virtuosismo, pela intimidade, pelo perfeito alinhamento que nos levou numa viagem emocional, de standards jazz às profundezas da alma espanhola, passando pelo México, Brasil e Portugal (mais que brilhantes versões de Barco Negro e Povo que lavas no rio). Um fluído rio de melodias que acabou a desaguar em Radiohead. Corram a saber onde eles darão o próximo concerto e vão ver, ouvir e senti-los, seja onde for.

Filme do ano:

“Roma”
Eu tinha pensado em fazer batota e dizer outra vez que o meu filme do ano era o “Chama-me pelo teu nome” porque, apesar de o ter visto em 2017, estreou em Portugal em 2018 mas depois de ver a obra-prima de Alfonso Cuarón tenho de me render. “Roma” é um clássico instantâneo que invoca Fellini, Tarkovski e uma mão-cheia de outros mestres do cinema, mas consegue ser pessoal e íntimo, épico e universal. Absolutamente incontornável.

Série do ano:

“Killing Eve”
Se um dos critérios que se pode ter para avaliar uma série é a capacidade de nos deixar colados ao écran durante horas quando devíamos era estar a pôr as lãs no ciclo suave da máquina de lavar, então Killing Eve leva nota máxima. O jogo de gato e rato entre uma assassina e uma agente dos serviços secretos britânicos pela europa fora, fez-me rir e saltar no sofá. Sem ser nada de novo, é extremamente bem executado.

Livro do ano:

B.P.R.D. Hell on Hearth (volumes 1-3)
Mais uma batota, em vez de um livro escolho três. Não interessa. O início da edição em capa dura do segundo ciclo do B.P.R.D. (departamento para a pesquisa e defesa do sobrenatural), série spin-off do universo Hellboy, é um evento. O ano passado, a temporada que Hellboy passou no inferno (“Hellboy in hell”), e que em termos de narrativa acontece ao mesmo tempo que este ciclo do B.P.R.D., teve direito a edição de luxo e é sem dúvida um dos momentos altos da banda desenhada neste século. A série B.P.R.D. nem sempre lhe chega aos calcanhares mas ocasionalmente aproxima-se e isso já é bem mais que suficiente. “Hell on earth” é ciclo que se segue ao inicial “Plague of frogs”. Aqui a história atinge proporções nunca antes vistas no mundo da banda desenhada e dos super-heróis (se bem que o B.P.R.D. é mais um grupo de super-anti-heróis e anti-heróis sem nada de super…). Ao contrário do que sucede com outros universos, como os da Marvel ou da DC Comics, aqui sempre soubémos que caminhávamos para a desgraça e que não vai haver recomeços. “Hell on earth” é o fim do mundo a apanhar toda a gente em cuecas. É enorme, e extremamente bem feito. Estas edições em capa dura reúnem várias histórias que foram sendo publicadas ao longo de quase uma década na ordem de leitura que faz mais sentido e inclui bastantes bónus de esboços e capas alternativas. É imperdível para os fãs. Se ainda não o são, invejo-vos o primeiro encontro com este universo que ainda vos espera.

PS. Façam favor de ignorar os filmes do Hellboy e leiam os livros (embora eu esteja a cruzar os dedos para que o filme do ano que vem possa finalmente fazer justiça à personagem e ao seu universo).

Top discos internacional:
Toby Driver – “They are the shield”
Feu! Chatterton – “L’oiseleur”
Marlon Williams – “Make way for love”
Rosalía – “El Malquerer”
Son Lux – “Brighter wounds”
David Bowie – “Never let me down 2018”
Trevor Powers – “Mulberry violence”
Exit north – “Book of romance and dust”
The innocence Mission – “Sun on the square”
Kira Skov – “The echo of you”
Ken Wakan – “Phantasmagoria, Vol 1”
Cat Power -“Wanderer”
Nakhane – “You will not die”
Paul Simon – “in the blue light”
Tamino – “Amir”

Top discos português:
Salto – “Férias em família”
Conan Osíris – “Adoro bolos”
Filipe Raposo e Rita Maria – “Live in Oslo”
David Fonseca – “Radio Gemini”
Cristina Branco – “Branco”
Janita Salomé – “Valsa dos poetas”
Selma Uamusse – “Mati”
Senhor Doutor – “Senhor Doutor”

Top concertos:
Silvia Perez Cruz
Loney Dear
David Byrne
David Fonseca
Marlon Williams
Nils Bech
Camané
Bel Canto
Festival People (em Berlim)
Erlend Øye
Celeste Rodrigues
Nakhane

Playlist das minhas canções favoritas de 2018

https://open.spotify.com/embed/user/djgbarradas/playlist/7vVZe2hTRGzOqy1KLJKlFb

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