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Os melhores filmes de 2018, por Nuno Galopim

Texto: NUNO GALOPIM

Escolher dez filmes para neles traduzir um ano de ida às salas de cinema. Foi difícil escolher o “melhor”. Mas a obra anterior do autor e o modo como o seu filme deste ano aprofundou uma demanda temática acabaram por ajudar a definir a escolha. Mas qualquer um destes dez vale a pena ser visto (e revisto).

Não foi fácil escolher um… Ou seja, o “melhor”… E quase podia ter sido qualquer um dos três primeiros lugares da lista que aqui hoje apresento. Dois deles reforçam explorações temáticas já em curso nas respetivas obras, outro representa uma incursão pela memória que propõe algo de diferente do que até aqui nos dera a ver… A primeira opção para um “desempate” ficou na solidez das abordagens no quadro da obra… Sobretudo desde “Ninguém Sabe” (e não conheço a sua obra anterior a esse filme que serviu de revelação para o trabalho do realizador japonês) temos visto frequentemente Hirokazu Koreeda trabalhar o espaço familiar, as suas forças de coesão (mas também os potenciais de desagregação), tendo em “Tal Pal Tal Filho” e neste “Shoplifters” aprofundado um olhar sobre se as forças que unem são definidas pelos laços de sangue ou pelas vivências e afetos… O russo Andrey Zvyagintsev, que tem também dedicado grande atenção ao núcleo afetivo da família, tem porém acrescentado a essa célula um conjunto de situações que ecoam a profunda crise de valores pelos quais tem passado a sociedade do seu país depois de uma série das grandes mudanças políticas e económicas a que assistimos nas últimas três décadas. Depois de “Elena” e “Leviathan” o poderoso “Loveless” toma um drama particular como espelho do universo ao seu redor. “Roma”, de Alfonso Cuarón”, completa o trio de topo com um trabalho feito de silêncios e soberba direção de fotografia, numa perspetiva que deixa claro que corresponde ao ponto de vista daquilo que a experiência do realizador conhece, que contrasta com o tom de miserabilismo de algum realismo social que tantas vezes cativa muito boa gente. A mim não.

A lista do ano inclui ainda uma intensa exploração do que é afinal a identidade e a relação desconfortável que por vezes pode ter com o seu corpo (“Girl”), uma espantosa prova de que a melhor ficção científica pode partir das ideias e não necessariamente do batalhão de efeitos especiais (“O Interminável”), uma história de amizade e luta pela liberdade e sobrevivência que confirma o grande talento narrativo do seu realizador (“O Meu Amigo Pete”), uma história trágica que faz pensar como as sementes da violência podem estar noutras ações não menos violentas antes acumuladas (“Marilyn”), a definitiva confirmação da assinatura autoral de dois jovens cineastas brasileiros no aprofundar de uma busca de tramas dentro do espaço físico (a cidade) onde fazem o seu dia a dia (“Tinta Bruta”), uma perturbante visão de como um perseguido se pode transformar no perseguidor dos seus iguais numa narrativa em tempo de fim de guerra (“O Capitão”) e a sempre feliz ocasião de reencontrar em François Ozon um dos mais sólidos autores da sua geração (“Franz”).

1. “Loveless”, de Andrey Zvyagintsev
2. “Shoplifters”, de Hirokazu Koreeda
3. “Roma”, de Alfonso Cuarón
4. “Girl”, de Lukas Dhont
5. “Interminável”, de Justin Benson e Aaron Moorhead
6. “O Meu Amigo Pete”, de Andrew Haigh
7. “Marilyn”, de Martín Rodríguez Redondo
8. “Tinta Bruta”, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
9. “Capitão”, de Robert Schwentke
10. “Fanz”, de François Ozon

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