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Novas visões para dias mais sombrios

Texto: NUNO GALOPIM

Reativados no início da década, mas desde há oito anos com os destinos da música apenas nas mãos de Neil Arthur, os Blancmange editaram um décimo álbum em 2018. Um disco mais sombrio que traduz sinais dos tempos que vivemos.

Uma das mais interessantes duplas da primeira geração da pop eletrónica made in UK, os Blancmange tiveram uma primeira vida relativamente curta, que nos deixou o trio de álbuns “Happy Families” (1982), “Mange Tout” (1984) e “Believe You Me” (1985) e uma mão cheia de belíssimos singles. A sua música juntava desde logo ao som da descoberta das novas ferramentas eletrónicas e a uma angulosidade rítmica talhada igualmente pelas máquinas, uma curiosidade no diálogo com outras fontes de som e até mesmo geografias sonoras, não tendo sido de todo inesperado o tempero indiano da aventura a solo que Stephen Lusbombe, uma das partes da dupla, lançou em 1988 sob o nome West India Company.

Depois de um fim anunciado em 1986, os dois músicos seguiram caminhos separados, tendo Neil Arthur editado também a solo, mas já nos anos 90. Em 2010 reencontram-se para reativar a parceria e o nome da banda, apresentando em “Blanc Burn” (2011) uma tentativa de evolução na continuidade. Seguiu-se um exercício de revisão de canções antigas em “Happy Families Too”. O disco confirmava o afastamento de Luscombe após “Blanc Burn” (por motivos de saúde), ficando apenas Neil Arthur a bordo, mantendo assim ativo (mesmo a solo) o nome da banda.

Em 2015, com o leme já claramente nas mãos de Neil Arthur surgiu Semi Detached, um novo conjunto de canções, mantendo viva a assinatura pop electrónica dos Blancmange e sem ensejo em buscar pistas novas entre os cenários pop do presente. O gosto por ensaiar novas ideias ganhava contudo forma, no mesmo ano, no disco instrumental, Nil by Mouth que, mesmo assim mantinha uma ligação a registos sonoros em tudo fiéis à linguagem clássica dos Blancmange. Essencialmente instrumental, o seguinte “Commuter 23” levantava igualmente novas possibilidades dentro de uma mesma zona de conforto. Sinais de mais vincada vontade em encetar um novo capítulo surgem finalmente em 2017 no álbum “Unfurnished Rooms”, no qual Neil Arthur encontra um novo colaborador, Benge (de seu nome real Bem Edwards), um veterano com um vasto historial nos trilhos mais exploratórios da música eletrónica e eletro-acústica.

“Wanderlust”, de 2018, junta um novo episódio a esta recente parceria com Benge (na produção), mostrando igualmente as canções sinais de revitalização no plano dos temas e das próprias referências estéticas. O mundo atual e o clima de tensão em que vivemos (com os outros ou com as máquinas) são universo temático para um conjunto de canções que, embora mantendo marcas de assinatura evidentes com o passado dos Blancmange, por vezes parecem mergulhar por territórios sombrios mais próximos do que conhecemos em obras de nomes como os Depeche Mode ou Gary Numan.

A discografia dos Blancmange posterior à reativação do projeto é já mais vasta do que a que resultou da sua primeira vida nos anos 80. Mas só agora, ao décimo álbum, se assiste claramente a um virar de página na história do grupo. Nada contra!

“Wanderlust”, dos Blancmange, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da Blanc Check Records. ★★★

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