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De que lado está a verdade?

Texto: NUNO GALOPIM

Um antigo militar é colocado ao serviço da segurança pessoal de uma ministra cujas posições políticas levantam contestação a vários níveis e que pode esconder uma agenda desconhecida… A primeira temporada de “Bodyguard” nasceu na BBC e agora está disponível na Netflix.

Não será exatamente a versão britânica de “Homeland”, mas entre o universo temático comum (a luta contra a ameaça terrorista), uma afinidade no espaço físico em que evolui a trama (que envolve forças de segurança) e um interesse partilhado pela exploração dramática das personagens e dos seus relacionamentos, então em “Bodyguard” acabamos de facto por encontrar um parente próximo. Originalmente exibida na BBC – onde alcançou audiências consideráveis – e agora disponível na plataforma Netflix, “Bodyguard” acaba de conquistar uma (merecida) premiação ao ver o protagonista Richard Madden – que alguns podem conhecer de “A Guerra dos Tronos” – ser reconhecido nos Globos de Ouro como o Melhor Ator de uma série dramática…

A temporada de estreia apresenta seis episódios aos quais não faltam sequências de “ação vertiginosa” (que sugerem um orçamento generoso), momentos de tensão bem construídos tanto na escrita como nas imagem e algumas revelações e reviravoltas na trama que usam o fator surpresa em favor da relação com o espectador.

A série começa com uma tentativa de ataque terrorista a um comboio no qual viaja, por acaso, um veterano da guerra no Afeganistão que agora trabalha na Scotland Yard. Contra o protocolo faz-se notar ao ponto de ser chamado para um lugar de destaque no corpo de segurança da ministra do interior. Uma mulher firme na aprovação de uma legislação que garante ao estado maior poder de vigilância sobre os cidadãos, mas cuja ação pode esconder uma outra agenda. Ideologicamente em polos opostos, ministra e seu guarda-costas definem o eixo central de uma trama que junta por um lado os fantasmas do passado do militar veterano (que sofre de stress pós-traumático e viu a sua família desmoronar) e as águas turvas de evidentes opositores às políticas da ministra inclusivamente em altos postos das forças de segurança.

Sob ameaça, a ministra vai-se tornando num alvo potencialmente mais evidente. A sensação de desconforto em que vive o guarda-costas – que vincam as vitaminas de thriller da série – é amplificada quer pela sensação de estar perdido num jogo duplo do qual não sabe quem tem razão e, para tornar a coisa ainda mais vertiginosa, um cenário de atração com aquela que tem de defender, também aí ficando no ar se é coisa real ou ferramenta ao serviço de algo maior que ainda não conhecemos?

“Bodyguard” pode levantar algumas questões do foro político. Tal como em “Homeland” a série alarga a ameaça terrorista para lá do universo do extremismo islâmico, apesar de parecer estar ali o mais presente dos vértices. A política de vigilância mais apertada abre também possíveis frentes de debate. É o cavalo de batalha de uma ministra cujo perfil não deixa inicialmente entender que motivações realmente a fazem mover… E nestas águas turvas podemos debater ideias. Não me parecendo, contudo, que haja aqui posições de potencial defesa destas ou aquelas ideologias, como alguns textos críticos já levantaram.

“Bodygyard”, de Jed Mercurio, está disponível na plataforma Netflix.

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